O partido fundado por Francisco Lumbrales de Sá Carneiro, (PPD), realizou, de acordo com o regime estatutário, o Congresso após eleições. Deu que falar; apesar de descaracterizado, o PPD-PSD continua a ser o maior partido português, logo com responsabilidade acrescida.

Decidi, por mero prazer intelectual, reler alguns fragmentos do «Tratado das Paixões», de Descartes, talvez me iluminasse para melhor entender Rui Rio, convicto, imbuído de espírito de missão, talvez, desconhecendo eu, todavia, se consciente daquilo que o mesmo Descartes designa por «ideias aventureiras», que não podem ser manipuladas nem mudadas. Que fique desde já claro, não está em causa a seriedade do entretanto Presidente do PSD. Destemido, conseguiria mais votos que Pedro Santana Lopes.

Partira Rui Rio para Lisboa - onde diz não tencionar viver - ao encontro do destino, tudo o leva a crer, com propostas concretas dirigidas aos «sulistas elitistas», a António Costa, ao Governo, com afoiteza: «as paixões não são inerentemente más para o espírito, contanto que sejam mantidas dentro da moral e de livre arbítrio...» Sob a égide de Descartes, afinal, ponderara anos a fio; era a hora... E lançar-se-ia na corrida eleitoral de modo preocupante, evidente o espírito de cruzada, espadeirando, empenhado em espevitar uma liderança partidária inerme, resignada ou bloqueada, sem chefia activa (tudo isto olhado daqui, do Porto?) Considerara a consulta de opiniões de peso: Rio será (?) impulsivo, não insensato. Durante largos anos, presidira ao município do Porto, enleara-se em rotinas de prevalência; afirmar-se-ia após a vagatura, dado que, se atingida a presidência do seu partido, poderia vir a ocupar a cadeira de S. Bento.

Marcado encontro com António Costa - obstinado nos seus objectivos -, no dia seguinte à investidura no Congresso, Rio conversara com o seu Primeiro-Ministro, este de facto conhecedor da dinâmica das paixões. Recebido o presidente do PSD, sabedor Costa da sua pretensão - houvera contacto prévio -, logo após talvez se tenha dirigido à Assembleia deserta: não esperara o salto de lince do nortenho, do presidente do PSD, considerando Costa talvez a contensão de Pedro Passos Coelho: apesar do desaire sofrido com o seu qb de arbitrariedade, demonstrara não ser homem para agir por impulso, ao contrário do novo presidente, absolutamente diferentes até no modo como se haviam apresentado e comunicado, na abertura do congresso, no dia anterior. Pedro Passos Coelho, Primeiro-Ministro entre 2011 e 2015, Presidente Social Democrata entre 2010 e 2018, renunciaria ao lugar de deputado. E considerara António Costa, apressado - tanta a responsabilidade -, a hipótese de decidir Passos candidatar-se à mais alta magistratura da Nação. (No meu recanto, pergunto-me como encararia tal a maior parte dos portugueses, dado o índice formidável de popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa; Sua Excelência, conforme nos tem sido dado perceber em diferido, compreenderá os anseios de Rio, não me perguntem quais, jamais saberemos o que vai na mente de um político de estirpe.)

Decorridos dez dias sobre o Congresso, visitaria o Presidente do PSD a sede do CDS, recebido com simpatia por Assunção Cristas, presidente do partido, corajosa, sem peias, demonstradas capacidades no anterior governo, nas eleições para a Câmara de Lisboa e no próprio Parlamento, onde é voz dissonante, tantas vezes. Jovem, bebeu água do rio Bengo (pormenor nada despiciendo, acreditem, pelo entendimento do mundo político, na abertura ao futuro; nasceu em Angola.) Na actualidade, aliás, temos mulheres jovens notáveis na política, algumas em partidos de esquerda e todos sabemos quem são - elas não colaboram com o esquecimento...

No Parlamento, as diferentes bancadas ainda a adaptar-se, Fernando Negrão terá sido objecto de atenção e reserva; todavia, tudo decorreu pelo melhor, apesar da ausência do presidente do partido.

Haverá outros assuntos a merecer a atenção, talvez esperados, num país que ora arde, ora arrefece - tempestade siberiana abateu-se sobre a Europa. E os castanheiros, vergados ao peso do gelo, despojados de ouriços que formaram pela última vez, remetem para imagens tristes e sentimentos desencontrados...