A minha caixa do correio recebeu, neste mês de Agosto, uma cidade. Vinha em forma de livro. Mais concretamente, de dicionário. O Dicionário Toponímico Ilustrado do Porto. Um precioso documento. A autoria é de Rosalvo Almeida.

O nosso país não é muito extenso no que se refere à península. Entre Lisboa e Porto distam trezentos quilómetros, não é difícil ir de uma a outra cidade. Mas a vida e seus obstáculos, em determinados períodos, transforma em milhares de quilómetros o que são apenas centenas. Isto ainda mais engrandece o mérito deste trabalho, porque as hipóteses de uma pessoa, folheando-o, pegar na mochila e pôr rodas ao caminho, são elevadíssimas. Não sendo possível, tem aqui o frustrado viajante, leitor residual, página a página, em texto e imagem, uma cidade desocultada, no sentido em que não há rua, avenida, rotunda, clube, palácio, calçada, monumento, estátua, bairro, fonte, travessa, etc, que não estejam descritos e muitas vezes ilustrados com foto, frequentemente a cores. É um não acabar de personagens e lugares sucedendo-se alfabeticamente, o que muito facilita a vida de quem pretenda fazer uma consulta. Os textos informativos são, a maior parte das vezes, retirados de entradas de dicionários e enciclopédias, ou citações de livros.

Quando andava entretida a conhecer melhor livro e cidade, duas coisas que aqui se confundem, aconteceu ver um filme de Manoel de Oliveira, Cristóvão Cólon, que tem algumas cenas passadas no Porto, e logo fui assaltada pelo duplo desejo de ir ao dicionário... e à Invicta.

Não sendo uma profunda conhecedora do Porto, também não me considero totalmente ignorante da cidade. Ou não considerava, porque depois de folhear detidamente este delicioso objecto, chego à conclusão de que existe uma outra cidade de que eu não tinha o menor conhecimento. E que por muitos anos que eu viva, por muitas vezes que aí me desloque, nunca conseguirei ter, ao vivo, uma visão completa da cidade como aqui se me apresenta. Por isso, esperando a oportunidade de próxima ida e escolhendo os lugares absolutamente obrigatórios, antecipo, pelas entradas e pelas imagens, o prazer que esta cidade sempre me oferece, agora ampliado por um “mapa” em forma de dicionário, mapa que se não é o território, anda lá perto. Se não ao vivo, quase. E a cores.

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