2021-06-23



Risoleta C Pinto Pedro


Influenciadores ou inspiradores?



Ouvi, na rádio, a propósito do aniversário de Eurico da Fonseca, grande especialista e entusiasta na área da aeronáutica, autodidacta e divulgador, nascido a 1 de Março de 1921 e tendo partido no ano 2000, que teria sido, segundo as palavras usadas, um grande influenciador…

Este termo, usado no sentido que aqui se lhe atribui, é recente. Influenciadores digitais estão na moda e quase toda a gente se quer tornar um deles. Há, até, páginas onde se ensina como fazê-lo, o que passa pela produção de vídeos e de publicações, nomeadamente no Youtube. Não interessam muito os conteúdos, mais importante é a frequência, o ritmo, o cenário, o dramatismo, etc…

A Wikipédia define assim: «Marketing de influência é uma estratégia que ocorre por meio de plataformas digitais, como Instagram, YouTube, TikTok e LinkedIn. O marketing de influência é uma abordagem de marketing que consiste em praticar ações focadas em indivíduos que exerçam influência ou liderança sobre potenciais clientes de uma marca.».

Mas pode não se tratar de marca nenhuma. Tenho falado com adolescentes, os grandes “consumidores” destes canais, a tentar perceber o que “vendem” esses influenciadores ou em que se destacam, e chego à triste conclusão que a reposta é nada, se exceptuarmos o disparate. Limitam-se a falar disto e daquilo, às vezes de coisas específicas que lhes interessem, a construírem um boneco de si próprios no que podem ser imitados pelos seguidores ou apenas admiradores, e não se passa mais nada…

Segundo entendi, pode tratar-se também de pessoas que por já serem célebres em alguma área, criam, nas redes sociais, os seus seguidores. Outros tornam-se célebres por alcançarem um número significativo de seguidores. Depois, as marcas podem usar estes influenciadores para venderem os seus produtos. Tentei perceber se se destacariam por alguma qualidade, por alguma investigação ou saber que os distinguisse e destacasse da média, mas não consegui…

Vão do mega ao nano, decorrente do número de seguidores que arrastam. Há-os nas áreas da comédia, do jogo, da moda, da comida, e mais uma vez… do disparate…

Restringi-me a Portugal e fui ver o “maior”. Começa bem, aos gritos, e afinal vai falar sobre uma aplicação que afinal não o é, que afinal é uma rede social onde não se colocam fotos, nem pensamentos, nem vídeos ou criação de conteúdo, serve apenas para criar uma conta e comunicar o que se gosta de fazer, comer, viajar, “qualquer porcaria que me apeteça” (cito) para recomendar a todos… logo, uma rede social para criar influenciadores. Nesta rede cada um é um influenciador, como ele: de desenhos animados japoneses, séries “brutais”, melhores jogos de sempre, consolas, lutadores, coisas compradas na Amazon. Como vêem, um “fascínio”! Fiquei então a saber que este grande influenciador, o maior, é um criador de influenciadores. De quê? De qualquer coisa, não importa. Estamos no reino no vazio. O outro que vem a seguir está a mostrar dez utensílios para fazer sushi, mas “os dez mais idiotas, os que não vão resultar”. Promete… Enfim, se quiser rir um bocadinho e deitar algumas lágrimas pelo meio, num dia cinzento, depressivo, pode resultar… ou ficar mais deprimido ou ficar melhor.

Saltei mais para a frente (não se consegue ver tudo seguido, ele já estava a comer uma peça de plástico de um dos utensílios, para mim já chegava), e fui ao número três. Uns rapazes no sofá com ar de quem não acordou ainda da “night”, que depois aparecem num “flash back” com dois dos mesmos a conduzirem agarrados ao volante, mais concretamente a disputarem-no!, andando de skate, fazendo xi-xi na relva, tudo no meio de enorme gritaria, num bar a beberem álcool directamente da garrafa, palavrões e gestos ao mesmo nível, tudo muito baixo, a esconderem coisas uns dos outros dentro de caixotes de lixo, a lambuzarem a cara com creme, a lamberem a cara do outro lambuzada com creme, a mostrarem a roupa interior, a fugirem de uma trotinete dentro de um estacionamento e com óculos escuros, a fazerem grafitis obscenos, a pregarem e a apanharem sustos com aranhas…a fazerem tatuagens numa casa com piscina que não tem ar de pobrezinha, etc, etc, etc.

Esta gente pode ganhar mais de sessenta mil euros por mês, o que explica a opulência da casa e a piscina.

E são muito visitados, segundo informação no próprio vídeo, muito vistos por crianças!!! e adolescentes. Isto promete em relação ao futuro.

Enfim, tudo “por causa” do Eurico da Fonseca. Lembrei-me então de procurar influenciadores na área da aeronáutica… e nada. Contudo, nem tudo é mau. Uma jovem do Norte apresenta-se brilhantemente na área da matemática e graças a ela aprendi a calcular o perímetro de polígonos irregulares. É didáctica, é leve e é brilhante. Afinal, há esperança. E muito depende de nós. Quanto tempo passamos ao telemóvel quando estamos junto dos nossos filhos, netos e outros familiares jovens? Quantas vezes deixamos de lhes responder a uma pergunta porque estamos a mexer no telemóvel? E já agora, que tal mostrarmos-lhes estes vídeos da jovem matemática e outros, que afinal existem, como alternativa ao lixo? Tenhamos fé, eles são inteligentes e têm bom gosto, apenas precisam de conhecer alternativas.

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