Ouvi há tempos, na TSF, uma passagem de uma apresentação da próxima Warm-up QSP SUMMIT 2021 prevista para o Verão, no âmbito do programa matinal de sábado “Negócios em Português”. Como sou um bocado ignorante nesta questão de negócios, resolvi ouvir, e o que “aprendi” não foi muito edificante. Numa intervenção de um dos previstos participantes, em sessão de apresentação do evento, o economista Nouriel Roubini, ouvi algo que apenas classifico de um impudor sem limites. É tanto mais chocante porque, vim a saber, este filho de judeus iranianos foi consultor de Clinton, Obama, próximo do Partido Democrata e de Joe Biden. Talvez não seja assim tão espantoso. O seu percurso é linear, atravessa várias presidências, com excepção de Trump, mas convenhamos, aquilo não foi, propriamente, uma presidência, foi mais um pesadelo. Até para um destemperado liberal como me parece ser, e embora possa estar a ser injusta, já explico porquê, há limites. Previu a última crise mundial, o que não deve ser difícil. Isto de prever crises é a coisa mais fácil do mundo num mundo onde os mesmos erros continuam a ser cometidos e onde as mesmas receitas conduzem sempre aos mesmos resultados. Eu própria, que não entendo nada do assunto, não tenho dificuldade em fazer previsões destas.
Aliás, o Relatório Sakharov já prevenia, em 68, para o risco da própria existência da humanidade, por políticas perigosas que apenas pretendem «obter um máximo de posições em toda a parte onde isso seja possível e, ao mesmo tempo, criar o máximo de prejuízo ao adversário». E previa, para os anos de 75-80, uma grande fome mundial.
Afirma Nouriel Roubini, na sua intervenção, que se Portugal continuar a desenvolver política económica de mercado e a fazer reformas, ainda que possa continuar a não conseguir prosperar a médio prazo, virá a ter um futuro brilhante.
Depois de ter proferido várias afirmações sobre a recente história económica mundial que qualquer um de nós poderia ter feito, refere as qualidades do nível de atractividade que Portugal desenvolveu para uma forte procura de investimento estrangeiro. Vejamos o que faz parte desse famoso nível de atractividade: começa por falar em mão de obra qualificada, e é verdade, há licenciados nas mais inesperadas profissões, custo de trabalho atractivo, o mais descarado eufemismo que já alguma vez ouvi, e o facto de o país ser «fraternal com os investidores». Não sei bem o que significa isto, pode significar tudo, do melhor ao pior. Pode significar ser “fofinho”, o que não tem, necessariamente, como oposição, ser hostil. Fala na trágica crise e no aumento dramático do desemprego e dos pobres, e aqui mostra alguma humanidade. Não posso dizer que tudo tenha sido negativo no seu discurso, afirmo-o sem ironia. Mas quando volta ao tema do investimento directo estrangeiro, que era forte antes da crise, verifica que se manteve forte mesmo depois dela, devido à mão de obra qualificada barata, e aqui abandonou o eufemismo não fosse a gente não perceber, e atribuir a virtude, por falta de informação, à democracia, à boa produtividade e às boas instituições e estruturas. Este é o aspecto positivo que destaca, e põe no mesmo saco democracia e mão de obra barata. Aqui mandou às urtigas o eufemismo e chamou os bois pelos nomes. De facto, dá sempre jeito uma democracia para branquear a mão de obra barata. Afinal, sempre estamos numa democracia, não é tudo mau. Ou então vivemos ao mesmo tempo em dois mundos, numa espécie de realidades paralelas, com aspiração à Europa civilizada e ao «custo de trabalho atractivo» à maneira do terceiro mundo. O “melhor” de dois mundos! E o futuro é brilhante. Não se sabe é para qual dos mundos…
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