2021-05-26



Risoleta C Pinto Pedro


Os falsos pobres, os falsos ricos e a falsa informação



Ouvi na rádio, no dia de Páscoa, um alto dirigente da Igreja expressar a sua preocupação com os falsos pobres, os que fazem da pobreza a sua profissão. A afirmação foi destacada do contexto, à laia de apresentação ou anúncio, para mais tarde. Extraída da entrevista completa. Ouvi depois a entrevista, que não sendo propriamente um discurso franciscano, também não corresponde, na globalidade, ao que o destaque parece querer sugerir. Por que razão terá sido escolhida esta passagem, para além de se tratar de um tema que está na moda? Recentemente temos ouvido um pequeno político expressar igual preocupação com os que, segundo ele, vivem à custa dos subsídios da nação. O alto dirigente religioso e o pequeno político falam sobre a mesma coisa, sendo que o primeiro foi descontextualizado, embora devesse haver, da parte da igreja, um maior pudor no tratar desta questão, pois se é indubitável que tem sido um apoio para muitas pessoas, por outro lado é, também, inquestionável, que são os pobres que se ajudam uns aos outros. O próprio entrevistado reconhece que o pé-de-meia da igreja é acumulado tostão a tostão. A maioria dos que frequentam a igreja não são ricos, e são estes que todos os domingos vão enchendo o saco das esmolas, que revertem, em parte, para ajudar os que delas necessitam. Que são cada vez mais. Por isso, é no mínimo inoportuno, sobretudo neste momento, falar dos falsos pobres. Será que o problema maior da igreja e deste país é o facto de andarem a ser roubados pelos… pobres? E agora viro mais a agulha para o tal político, aquele que não dorme a pensar como resolver o magno problema nacional que é a existência daqueles que guardam os proveitos que recebem dos dinheiros públicos dentro de um pote de ouro nos quintais e em vasos nas varandas, para não denunciarem a sua prosperidade com sinais exteriores de riqueza. Qual pandemia! Qual corrupção! Qual má gestão! Qual agenda económica a comandar tudo! Qual cumplicidade entre a Política e a Banca! Qual imprensa comprada pela grande finança internacional! Não! O problema deste país são os dinheiros desviados pelos pobres, essa economia oculta guardada em colchões, vasos, canteiros, porquinhos de barro e frigoríficos. Os negócios obscuros que enriquecem cada vez mais os muito ricos? Pormenores! Nada disso teria importância, se não fossem os desvios de dinheiro feitos pelos… pobres, as suas opulentas pensões, as indevidas esmolas recebidas por via das instituições religiosas de solidariedade social. Por isso não se percebe a preocupação do papa com os países pobres. Não têm dinheiro para comprar vacinas??? Como?!

Os falsos pobres!, esses pantomineiros sempre de mão estendida, esses farejadores de apoios, esses desviadores de esmolas! Fazem dieta para parecerem famélicos, usam a mesma roupa, não pagam o empréstimo da casa, andam há décadas com o mesmo carro, evitam fazer férias em Paris para não darem nas vistas e até têm o descaramento de morrer por falta de assistência, por subnutrição, por causas que não lembram ao diabo a estragarem-nos o jantar com imagens tão pouco adequadas ao cenário das nossas mesas de jantar! E lá se vai uma parte dos nossos fundos, agora das vacinas, para apoiar esses indigentes!

Assim começou o meu domingo de Páscoa, à laia de Quaresma, que este ano se prolongou. Pior estão, contudo, aqueles que nunca de lá saíram nem se sabe quando sairão, aparentemente só para nos darem cabo da digestão.

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