2021-03-03



Risoleta C Pinto Pedro


DOIS JOSÉS E UM FRANCISCO



Recebemos, recentemente, a triste notícia da partida do maestro José Atalaya. Por estes mesmos dias também se comemorou o aniversário da morte de outro grande da música: José Afonso. Um ligado à cultura erudita, outro à cultura popular, mas ambos unidos por algo comum: a boa música. Compositores, divulgadores e intérpretes, porque, afinal, um maestro é um intérprete.

José Atalaya com seus concertos de divulgação teve para mim a mesma importância de Zeca, e veio ao meu encontro pela mesma altura em que me foi dada a conhecer a música de José Afonso. Ambos me formaram tanto ou mais que o melhor da escola: da melodia e tons da música à poética dos textos, tudo envolto numa mesma ética. Levar arte e consciência ao máximo de pessoas e lugares, nomeadamente àqueles que naturalmente não as procurariam por não saberem onde as procurar ou sequer que elas existiam.

Que têm estes dois Josés a ver com o Francisco? Francisco d’Orey não só partiu há cerca de um ano por esta mesma altura (a Primavera é um tempo difícil…) como alimentou a mesma linha de divulgação e interpretação do que é a música: estética e ética. Também Francisco d’Orey à frente da sua Juventude Musical Portuguesa me proporcionou, no tempo do liceu em Tomar, uma experiência, que guardarei para sempre, de contacto com grandes compositores, e não se limitando a divulgar, pôs um enorme pavilhão de adolescentes e jovens, a maioria dos quais nunca contactara com tal tipo de música, sendo que alguns se furtavam às aulas de canto coral, a cantar a três vozes, em cânone. Nunca mais esqueci a melodia, a tal ponto foi marcante para mim.

«Ei-los que partem…» como cantaria Manuel Freire, estes emigrantes para um reino desconhecido, deixando atrás de si vozes e ecos, cantos e melodiosos sons. Deixam vidas generosas com que distribuíram riqueza por tantas paragens e tocaram indelevelmente gerações de grandes e miúdos, como eu, encantada então e para sempre. Isso acontece quando a batuta se transforma em varinha de condão e a voz mantra.



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