Afirma Eça que «sistemas de filosofia, teorias do universo, concepções de sociologia, sínteses da História, duram geralmente cinquenta anos: uma geração as ergue, outra geração as derruba». E assim é, se bem que frequentemente encontremos em teorias apresentadas como novas, o germe de filosofias milenares. Elas são derrubadas, mas regressam depois de algumas gerações, com novas linguagens. Como se andássemos sempre a pensar as mesmas coisas, mas de modos diferentes. A própria ciência, na essência das suas descobertas mais vanguardistas, podemos encontrá-la na voz sábia de antiquíssimos pensamentos. Apenas a técnica vai avançando numa absoluta novidade, seguindo as novas formulações da ciência remotamente revelada ao abrigo da filosofia. Mas é um facto que tudo vai mudando, como os poetas mais atentos e inspirados têm cantado. Para não perdermos o pé e o equilíbrio no meio desta vertigem de mudança, algo precisa de permanecer estável. Algo de onde irradia luz, bondade, colo, aconchego, ética, justiça e solidariedade. Isso é o arquétipo do presépio. Um arquétipo presencial, ainda que a etimologia “praesepe” remeta para estábulo, ou melhor analisando, “prae” (diante) e “saepes” (lugar fechado), concentrando o lugar onde os animais são guardados e aquele onde comem. Este significado de presépio como lugar fechado, igual aquele em que vivemos este ano (é também daqui que vem “sebe”) deve fazer-nos pensar nalgum paralelismo entre o presépio de Belém e as nossas próprias sebes ou currais pessoais.
Ao lugar fechado em Belém onde o Menino nasceu, segundo as narrativas, histórias e lendas alimentando o arquétipo, houve convergência. Desse lugar apontaram-se caminhos. Nesse lugar houve luz projectada para o futuro. É um lugar imorredoiro e central. Uma paradoxal gruta aberta em todos os sentidos do espaço e do tempo. E aviso que não estou a raciocinar em termos religiosos, mas estritamente histórico-simbólicos. É um lugar chão onde o caminheiro cambaleante e cansado da permanente mudança pode repousar, apoiar-se e reerguer-se, como um menino que reaprende o andar. É em Dezembro que se convenciona, na cultura onde cresci, estabelecer esse tempo de restabelecimento, restauro e restauração. É todo ao contrário do que afirma Eça, esse santo da nossa narrativa crítica, e contudo é tão abrangente, que também o contém.
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