Estamos no mês do Natal e não consigo não pensar, não falar e não escrever sobre esta quadra. Tudo já foi dito e tudo permanece ainda por dizer, na forma e no conteúdo.
Pensar-se que o Natal é coisa para católicos ou cristãos é o que há de mais espantosamente enganoso. Só mesmo não pensando se pode encarar assim esta data. Sou neta e em muitos aspectos herdeira de um homem chamado José Francisco Pinto, que sempre se disse ateu e que afirmava para quem o queria ouvir ser a religião o ópio do povo, era o mais entusiasta a cantar, à lareira, as cantigas ao Menino. Tinha convicções, mas não tinha preconceitos. E possuía a inteligência de compreender que mais do que uma cerimónia religiosa, o Natal com Jesus é uma forma de perpetuar a nossa cultura tradicional. Muito mais do que o Pai Natal. Muito mais do que a árvore de Natal. Na verdade, existe Natal porque há dois mil e tal anos um menino nasceu em determinadas circunstâncias. Chamava-se Jesus.
Cientificamente é difícil ignorar isto, é um dado histórico e adquiriu valor simbólico inultrapassável. Nasceu num contexto de perseguição religiosa e política. Pelos vistos, como actualmente. Mas hoje, falar-se ou dar-se relevo à figura do Menino, em certos contextos, pode ser visto como politicamente incorrecto e capaz de criar susceptibilidades a não-crentes. Mas o Pai Natal, a árvore, as luzes comerciais e todo o folclore comercial passam ao lado da censura bem pensante. Bem como o ridículo dos adultos nas lojas, nas ruas, por todo o lado, antecipando o Carnaval, mascarados com barretes de Pai Natal que se multiplicaram por todo o lado na proporção matemática com que desaparece o Menino Jesus. O Pai Natal e a árvore são importados de culturas que não a nossa. O que não tem mal nenhum, mas não deve escamotear o que é a nossa verdadeira tradição. O que acontece é que numa sociedade eivada de positivismo no sentido mais estreito, bem próximo do materialismo, o Pai Natal, que se foi afastando cada vez mais da personalidade de São Nicolau, e a árvore em sua matéria, podem ser dessacralizados sem dificuldade. Já mais difícil é dessacralizar a figura de um menino numa manjedoura sendo adorado pelo povo e pelos poderosos. Quando falo em sagrado não me refiro a religiões ou a cultos religiosos. Mas mais difícil é ignorar o que de culto existe na cultura. Refiro-me ao respeito, quando falo em sagrado, ao respeito reverencial por aquilo que existe e é eterno e tem valor de arquétipo, à tradição que vem dos nossos antepassados e merece ser resguardada e elevada por nós. O Menino já teve de se esconder uma vez, não o persigamos, não o ocultemos de novo para a eternidade, pois o preço, sem que o saibamos, é alto, é o nosso próprio Menino eterno e interno que matamos. Com todas as consequências que conhecemos e sabe-se lá que outras. Sei que Ele vai ressuscitar sempre dos maus-tratos do Natal, mas também não tenho dúvidas que não é tão cedo que se verá livre dos Herodes que perseguem e obrigam à ocultação. Contudo, o herói é Ele, o menino intemporal deitado nas palhas e a escorrer pelas artérias e vasos dos nossos corações.
risoletacpintopedro@gmail.com
http://aluzdascasas.blogspot.com/
http://diz-mecomonasceste.blogspot.com/
http://escritacuracriativa.blogspot.pt/
http://www.facebook.com/risoleta.pedro
https://www.facebook.com/escritoraRisoletaCPintoPedro/
http://aluzdascasas.blogspot.com/2020/03/o-vale-do-infante.html
http://risoletacpintopedro.wix.com/risoletacpintopedro
LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS
DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS