Risoleta C Pinto Pedro
Comparações e metáforas
O ser humano tem uma tendência atávica para comparar. Sendo a comparação um processo estilístico interessante e uma forma de aprendizagem importante para crianças pequenas, assume, contudo, a partir de uma certa idade, uma componente de infantilismo. As crianças têm muito a tendência para, querendo ganhar o amor ou a atenção dos pais, fazer comparações com os amigos e os irmãos. Eu sou o teu filho perfeito, sou muito melhor do que os outros, não gostas mais de mim?
Isto sucede a nível pessoal e a nível colectivo. Os modos de o fazer sofisticam-se ou não, a ponto de, em tempos, alguns países como Portugal se terem orgulhado, acintosamente, de não serem a Grécia. Acontece que em relação a este caso do Covid, em que a Grécia apresenta números relativamente baixos, ninguém veio afirmar que não somos a Grécia. Do lado oposto, tivemos a proliferação de Charlies até à náusea. Não que a ideia, o princípio, o sentimento de solidariedade esteja errado, não se trata disso, é a simplificação e o vazio que se seguem à ideia. Pior: a seguir aos Charlies veio toda uma comitiva de exemplos a seguir, uma forma de nos solidarizarmos sem termos muito trabalho, sem pensarmos nem alargarmos os cordões à bolsa.
Agora voltámos à comparação de superioridade e o termo que nos faltava era a Itália, mesmo a calhar. Aqui fiou mais fino, mas ainda ouvi umas vozes extemporâneas e, valha-nos isso!, tímidas, sugerindo que o nosso caso não tinha nada a ver com Itália. Por sua vez, a Itália apresenta-se como um modelo. Acreditem, já ouvi tal. Resumindo: não há paciência para tanta garotice em seres humanos adultos e ocupando lugares de responsabilidade. Nem vale a pena falar do presidente dos E.U., que é um caso diagnosticado de um problema que não se pode nomear. Aquele que registou a nacionalidade do vírus. Claramente, este vírus é chinês, vê-se logo pelos tons dourados. E pela capacidade de proliferação. Elementar, meus caros.
Deixando-me agora de palermices e falando a sério: quando crescerá, realmente, esta humanidade em que me incluo? Quando deixaremos de usar obsessivamente a comparação de superioridade ou de inferioridade, ignorando, ostensivamente, a de igualdade? É que afirmar “Je suis… qualquer coisa” não é, de todo, uma comparação, mas uma metáfora. Sem o brilho irradiante da metáfora, apenas um macaqueio dela, que anula a diferença na igualdade. É isso a equidade. O nosso prontuário estilístico é, ainda, muito básico. Desculpem-me alguma acidez, mas uma mulher não é de ferro e ao fim de uns dias sem ir à rua, de vez em quando é preciso desabafar. Pela nossa saúde.
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