Risoleta C Pinto Pedro
Prometemos ser breves
Sobre a Construção de Obras Duradouras
Quanto tempo
Duram as obras? Tanto
Quanto o preciso pra ficarem prontas.
Pois enquanto dão que fazer
Não ruem.
Convidando ao esforço
Compensando a participação
A sua essência é duradoura enquanto
Convidam e compensam.
As úteis
Pedem homens
As artísticas
Têm lugar pra a arte
As sábias
Pedem sabedoria
As destinadas à perfeição
Mostram lacunas
As que duram muito
Estão sempre pra cair
As planeadas verdadeiramente em grande
Estão por acabar.
Incompletas ainda
Como o muro à espera da hera
(Esse esteve um dia inacabado
Há muito tempo, antes de vir a hera, nu!)
Insustentável ainda
Como a máquina que se usa
Embora já não chegue
Mas promete outra melhor.
Assim terá de construir-se
A obra pra durar como
A máquina cheia de defeitos.
Bertold Brecht, in Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas
Tradução de Paulo Quintela
Cá para mim, nunca se devia prometer nada. Faz-se ou não se faz e pronto. Assim nunca ninguém incumpre (esta faz-me lembrar o “inconseguimento”) uma promessa.
Quando venho a caminho de casa sou acompanhada, num dado troço, por setas indicando o Museu da Água. Têm razão, o Museu é para ali, quem quiser ver o edifício por fora e espreitar o jardim, não é enganado. Só há um problema, é que está fechado. Para obras. Como o país. Para desobras.
Ficam já avisados. Aconselho, também, a que se algum dia lá pretenderem ir (ao museu…) telefonem primeiro a saber se as obras já terminaram (no país). Porque não há data à vista (no museu e no país…) .
À entrada, a informação “Prometemos ser breves”; mas o que é que significa uma coisa destas neste país? Não depende de nada e depende de tudo. Depende da empresa, do encarregado da obra, de quem encomendou, de quem ganhou o concurso, de quem ajudou, de quem fornece os materiais, depende de todos, de tudo e de mais alguma coisa. É uma frase muito complexa. Começa logo por ter duas palavras que já por si são um problema: “prometemos” e “breves”. O facto de estar escrita em Português torna a situação ainda mais difícil.
Mais valia que lá tivessem escrito: “Acaba quando acabar”. Era uma coisa mais verdadeira, mais honesta, ninguém estranhava, não criava falsas expectativas, íamos vendo outros museus enquanto esperávamos. Assim, com esta promessa de brevidade, sobretudo os turistas, são capazes de voltar logo daí a dois dias ou, no caso dos mais pessimistas, na semana seguinte, quando eu tenho acompanhado esta situação, que dura há meses. E como sou portuguesa, sei que a coisa está, provavelmente, na fase preliminar. Se é que algum dia vai voltar a abrir, o Museu da Água. Prefiro pensar assim, para custar menos a passar. Aos turistas que lá encontro quando passo com a minha cadela, digo que só conseguirão ver o museu na próxima vinda. Ou na próxima vida. Pronto. É mais verdadeiro. Mais honesto.
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