Risoleta C Pinto Pedro
CARLOS EDUARDO
É o nome de um jogador de futebol. Tropecei nele como numa bola inesperada a descaminho da baliza. Carlos Eduardo. O futebol é um tema que me interessa, não pela competição em si, mas pelos temas paralelos que convoca. Este, dos nomes dos jogadores, não é um tema menor. Muitas vezes são surpreendentes. Mas este ultrapassa tudo. Carlos Eduardo seria o menos previsível nome para um jogador. É um nome romântico, cheira a alcova, a teatro, a tertúlia de café. Cheira, mesmo, a Paris. A charuto e a perfume francês. É a isto que me cheira. Dificilmente o imagino num relvado. Como nem sequer conheço o seu rosto, mais difícil ainda me é imaginar. Mas evoca-me uma imagem: uma mãe, um pai, um dia andaram na escola secundária e tiveram um professor de Português que soube apresentar-lhes a literatura como coisa viva. Não apenas como coisa mental. Este ou estes adolescentes sentiram o perfume das personagens e por alguma razão, vá lá saber-se!, simpatizaram com Carlos Eduardo, personagem principal d’Os Maias. Mais tarde, quando tiveram um filho, recordaram-se de si mesmos quando eram belos e gostavam de se perder na ficção. Recordaram um dos amores de então, Carlos Eduardo, uma das personagens de ficção mais reais da literatura. Tão nacional de tão diletante, tão nós, tão nosso, apesar do perfume a capital estrangeira. Até mesmo por isso. Estes adolescentes que entretanto cresceram, tiveram um filho. Esperavam para ele a fama de Carlos Eduardo, a notoriedade da fidalguia, o charme discreto do tédio. Puseram-lhe nome adequado. Feito para ele. Ficaram surpreendidos quando, uns anos depois, o viram dar pontapés na bola. Já era tarde.
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