Risoleta C Pinto Pedro

O meu presépio está ainda dentro de uma caixa e a caixa está em cima de um armário ao qual o meu escadote não chega bem. Isto talvez explique o facto de ainda não o ter montado, mas não creio. A preguiça é uma palavra falsa para uma coisa que não existe. Se eu quiser mesmo ir buscar o presépio, consigo esticar-me o suficiente para chegar lá, nem que tenha de calçar os sapatos mais altos e menos calçados da minha sapateira. Portanto, haverá uma explicação para a preguiça, talvez o facto de ter de reforçar no coração algumas personagens do presépio, o menino, o José… é que quando algumas figuras faltam da família real, digo, da realidade, o coração precisa de rejubilar mais com uma alegria eterna intemporal e independente das ausências, para aquecer e iluminar o presépio temporal.

Eu até tenho pensado que assim como um presépio tem várias ovelhas, vários pastores, três reis, etc, também devia ter vários meninos, vários S. Josés, por aí fora. Não vejo nenhuma razão para que tal não aconteça, e assim sempre se nota menos quando um menino se ausentou, mesmo que tenha sido há muitos anos, ou um S. José se partiu, mesmo que tenha sido há pouco tempo. Por isso acho que vou já daqui ao escadote e do escadote à sapateira e da sapateira ao armário alto onde está a caixa do presépio, que vou encher com uma multidão de personagens e figurantes, uma tal confusão que não se dê pela falta de ninguém. Porque na realidade ninguém falta, a ausência é apenas uma ilusão dentro das nossas cabeças de mentes. Sendo verdade, e eu acredito que “nada do que é real pode ser ameaçado”, o meu presépio, este ano, vai ser original de populoso, uma espécie de gruta e arredores frequentada como a 2ª circular à hora de ponta por reis, camelos, anjos, meninos, pais e mães, patos no lago, galos a cantar ao desafio, ovelhas a pastar, estrelas e mais estrelas no céu e, obrigatoriamente, um polícia sinaleiro para organizar este amoroso caos.


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