2013-10-09



Risoleta C Pinto Pedro


Pessoa e aconchego

Leia-se aqui Pessoa como símbolo de “o meu poeta”. O meu poeta é o que me aconchega mais. Sentir-me aconchegada pelo meu poeta, de que aqui Pessoa é o símbolo, porque eu posso ter um poeta de manhã, outro à tarde e outro ainda à noite, pode até significar sentir-me desafiada, sair da minha zona de segurança, sentir toda a terra a tremer sob os pés, o céu a ribombar sobre a minha cabeça, o ar a fustigar-me a pele e o fogo a incendiar-me a alma. Esse pode ser o aconchego que me traz o meu poeta. O meu poeta posso até ser eu, passados uns meses, passados uns anos, quando “o” leio. Quanto me leio. Quanto te leio.

Não procuro aconchego nos poetas, mas encontro-o sempre, mesmo quando me atiram para fora do colo, quando me obrigam a subir uma montanha, a descer por um precipício, a ficar enclausurada numa torre ou numa prisão. O aconchego é isso mesmo. É saber que “EleEla” o poeta, me compreende previamente. Que ensaiou antes de mim o passo sobre o abismo, que dançou antes de mim a valsa sobre o vazio, que arrancou antes de mim os cabelos e que os replantou um a um, chorando sorrisos. E depois rindo através das lágrimas. Através de mim. Que ensaiei depois dele os mesmos passos e chorei por ele e por mim, e por ambos sorri.


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