Risoleta C Pinto Pedro
Os pobres dos ricos
Mudaram completamente os conceitos e andamos todos baralhados.
Conversava no outro dia com uma amiga e queixava-se ela de falta de dinheiro. Com vários carros de luxo na garagem, casa própria, escritório em zona nobre, etc, etc. Ela queixava-se sinceramente convencida da sua escassez. Acrescentava que tinha muito dinheiro, mas todo a circular, gente que lhe devia. Provavelmente pessoas na mesma situação. Ela com encargos mensais de milhares de euros, os seus devedores
E eu pensava sobre o que lhes aconteceria se tivessem de se governar com aquilo de que eu disponho mensalmente. Mas levei mais longe o meu raciocínio: e eu, como me arranjaria se tivesse de me governar com o dinheiro de que algumas pessoas dispõem?
Riqueza ou pobreza não é só uma questão de se ter dinheiro, casas, carros, bens. É uma coisa mais da cabeça. Conheço pessoas desempregadas, que vivem praticamente sem dinheiro e não as vejo tão angustiadas como esta minha amiga. Que se espantava com as queixas de um dos seus devedores, o qual, tendo várias casas de luxo, se queixa, igualmente, de falta de dinheiro, coisa que ela acabara de me relatar em relação a sim mesma, não conseguindo, no entanto, entender a aflição do tal senhor.
Pergunto-me: terei tido já alguma vez a insensatez de me queixar de falta de dinheiro junto de um desempregado ou alguém numa situação não comparável à minha?
Provavelmente… mas como a culpa não enche o estômago, embora lhe cause algumas dores e mal estares, também por isso me perdoo. E à minha amiga, apenas um espelho de mim mesma. Porque é assim o nosso mundo: um infinito jogo de espelhos. Enquanto não reencontramos o nosso olhar lúcido de que apenas temos breves lampejos. Por enquanto, a culpa continua a ser dos outros e a responsabilidade de ninguém. É um jogo como outro qualquer. Ruinoso, como compete aos jogos.
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