Risoleta C Pinto Pedro
UMA CRÓNICA MESSIÂNICA
Toda a gente sabe da importância messiânica na nossa cultura, história, arte. E isso é bom. Mas também pode ser mau. Se entendermos o sebastianismo, a nossa forma específica de messianismo, como uma força de fé em nós mesmos, um impulso para o progresso no sentido mais progressista, passe a redundância, ou para o reconhecimento das nossas qualidades, nada a opor. Mas se for a atitude passiva dos que esperam por um D. Sebastião que, fora deles, os salve sabe-se lá do quê, talvez até de si próprios, não temos razões para ficar descansados. Porque Sebastiões é coisa que não falta para aí. Conhecem-nos por dentro e por fora, sabem muito bem o que é o melhor para nós e estão dispostos a mover montanhas para nos “ajudar”.
Isso está a passar-se atualmente com especial ênfase, não somos isentos de responsabilidade nisso, porque quando pomos nas mãos dos outros o nosso poder, tudo pode acontecer, e nos últimos dias assumiu formas particularmente inquietantes.
Quando um conselho de “ética” para a “saúde” vem dar a entender que estamos a adoecer acima das nossas posses. Falando depressa, foi isso que se disse. Por isso, há que distribuir a pobreza, também na doença. Haverá quem decida se uma pessoa doente merece viver mais um mês ou mais um ano. Isso dependerá dos medicamentos a que tiver direito, e não dependerá de si, se não puder pagá-los.
Às vezes, dantes, quando pensava na 2ª guerra mundial e na barbárie que indiciava ainda existir na raça “humana”, pensava que, com a experiência, a humanidade tinha aprendido e percebido que não queria mais aquilo.
Os que contribuíram para a edificação da barbárie eram pessoas como nós. Não eram monstros, eram monstros como nós. Esteve muita gente envolvida e muitos alimentaram o monstro coletivo. Depois, o que aconteceu noutros países a nível de limpeza étnica fez-me estremecer um pouco na minha convicção. Hoje, ouvir vozes tão respeitáveis e tão próximas e tão cândidas, e não estremecermos todos profundamente, só não me aterroriza porque acredito na evolução. Mas também sei que o progresso é sempre antecedido de momentos de caos. E há um lado em mim que sente que isto não devia estar a acontecer.
Compreendo que algo precisava de ser feito, mas o apoio aos deficientes nunca devia estar em causa, a segurança na saúde aos que têm menos posses, principalmente os mais frágeis, doentes, idosos, deficientes, crianças, igualmente; a alimentação é um direito de todos, um teto e a educação também. Não há liberalismo desbragado e incontido que me convença do contrário. Austeridade, sim, para os que podem tê-la. Austeridade é uma coisa para ricos, não para os que já nada possuem. E este discurso não tem a ver com luta de classes, perspetivas marxistas, não passa por sei lá que etiquetas queiram pôr no que acabo de afirmar, embora não tenha nada contra isso. Se quiserem, basta-nos recuar às palavras e ao exemplo de Cristo. Há tanto tempo… e ainda estamos nisto.
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