Risoleta C Pinto Pedro
ORIENTE E ACIDENTE
Foi um lapso, confesso, que deu o título a este texto. Confesso também que são acidentes que estão na origem de grande parte da minha escrita, independentemente do sentido que cada um quiser atribuir a "acidente".
De facto, eu queria escrever "Oriente e ocidente" e é isso que vou tentar fazer, mas veremos onde me leva o meu lapso, ou, diria Freud, o meu "ato falhado".
Veio-me a ideia a partir de um vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=pG9RFyR7ad4
com uma síntese do resultado de um primeiro convite feito a Alexandra Battaglia para a direção artística de um Showcase de 6 grupos de Dança de comunidades culturais diferentes existentes em Macau, inserido no XXII Festival de artes de Macau 2011, embora a ideia já me tivesse ocorrido anteriormente em diferentes contextos e em conversa com variadas pessoas.
Face à invasão de culturas milenares como a Índia e a China por exemplo, pelo melhor e principalmente pelo pior do ocidente, uma importação sem filtro de uma "descultura" uniforme, massificada, consumista e, no pior sentido, niveladora, e pensando no fenómeno de penetração, no ocidente, de algumas personalidades do oriente, mestres de diferentes escolas de meditação, artes marciais, técnicas de saúde tradicionais e filosofias orientais, sobretudo a partir de finais do século XIX e muito no século XX, fenómeno este de tipo significativamente diferente do anteriormente referido fenómeno inverso, porque qualificado, porque não massificado, porque não se limitando a transportar matéria desalmada, mas trazendo sobretudo, consigo, uma alma, e observando o que se passa hoje em Países como Macau, China e Japão, com os adolescentes e não só, numa correria aos ícones da "cultura" ocidental mais recente e mais superficial, penso:
Meditando sobre o quase culto que a tradição oriental nas suas várias vertentes (saúde, arte, religião, filosofia de vida...) assumiu no ocidente, e tendo já em tempos olhado para isto como uma descaracterização da nossa própria cultura, vejo agora, face à observação do que se passa aqui e lá, que não há comparação possível. Aqui deu-se uma importação seletiva e qualificada, lá, uma invasão. Consentida, claro, mas são coisas diferentes.
Talvez tenhamos tido de aprender uma forma diferente de pensar e até de respirar, para, através do amor por estas antigas culturas, virmos a ser nós, paradoxalmente, os que de alguma forma poderão preservar o que, admito com exagero meu, um dia poderá estar em risco: algumas das culturas mais antigas do planeta. No fundo, as nossas origens mais recuadas. O nosso mais profundo ser. Não esqueçamos que mesmo a nossa esquecida e maltratada avó Grécia nos traz, através da sua cultura que também está nos nossos genes, o som, os saberes e os sabores do oriente. De um tempo já quase mítico. A recuperar. Quando nos decidirmos a libertar-nos deste acidente em que se tornou o nobre (no sentido psicológico) ocidente. E assim voltamos ao título. E ao "lapso".
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