2011-07-06



Risoleta C Pinto Pedro


Penso depois

Acordo com o rádio em modo de pesadelo. Mais teria valido um despertador aos berros. Porque o que ouço à minha reentrada no mundo, esta manhã, é que, face aos mercados, fomos classificados como lixo. E isto não me caiu bem. Já no sono tinha andado dentro de um sonho que tenho recorrentemente em que ando desvairada à procura da minha mochila. Tinha-a deixado à guarda de alguém que à partida não merecia muito crédito como guardião de mochilas e o resultado fora que desaparecera mesmo. Como todo o meu mundo dentro: cheques, cartões, agenda, telemóveis, perfumes, batons, blocos, canetas, lápis, borrachas, livros, ganchos do cabelo, máquina fotográfica, chaves, etc. O meu mundo. Nos sonhos perde-se toda a sensatez. Para que fui deixar a mochila à guarda de alguém que nem a própria cabeça consegue guardar? Mistério. Adiante. Penso depois. Ainda por cima, na vida real já me acontecera ficar sem a mochila e todos os meus bens que tinha dentro e não me ralara nem um décimo do que me acontecera no sonho, onde perder a mochila equivalera quase (ou mesmo?) a perder a alma. Nos sonhos, as mochilas adquirem um valor simbólico inestimável. Porque será? Adiante. Penso depois. Já estou acordada. E sou recebida pela notícia de que eu e o meu país somos equiparados a lixo.

Muito bem. Volto pr'o sonho. Vou procurar a mochila. Penso depois.

risoletacpintopedro@gmail.com

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