Risoleta C Pinto Pedro
OS GALOS
Voltaram os galos. Primeiro, virtualmente, anunciados pelo toque dos
telemóveis, e agora em pessoa, digo, em criatura, se bem que os
telemóveis também sejam uma forma de seres criados.
Quando comecei a ouvi-los em forma de toque, duvidei deles, agora
voltei a duvidar deles enquanto seres reais. Mas de tanto ouvir uns e
outros, já sei distingui-los, e por isso posso afirmar que os galos aí
estão em força e em carne e em osso, ao contrário dos desossados
frangos de aviário que já são criados com osteoporose para melhor
conforto dos nossos dentes. (Quem disse que este mundo é justo)?
Mas voltando aos galos, estes de crista e canto, os dos vizinhos,
mesmo dos citadinos, têm sido uma das coisas boas da crise, que as
crises também têm coisas boas, como tudo. Talvez.
Têm estes galos como missão o tacho, como sempre tiveram. Mas não se restringe ao tacho a sua missão. Também podemos encontrá-los em alguns símbolos esotéricos. Para estimular à reflexão. E foram eles que anunciaram a
traição. E a ressurreição.Que uma, sem a outra, não teria existido.
Mas estes que agora povoam capoeiras e quintais nas cidades, e as
caves e os terraços, são o regresso à auto-subsistência. Que não
deveríamos ter negligenciado.
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