“Eu gosto das madrugadas.
Sempre me espanta que à noite se suceda o dia, que se levante o véu da escuridão e se iluminem os céus de um branqueio luminoso.
Quanto mais sombrias e confusas as trevas da nossa memória, mais resplandecente será a alvorada do nosso discernimento.
Amanhã.”
Raquel Gonçalves-Maia
Não gosto de diabolizar nada, porque nunca sabemos onde se esconde Deus. É certo que a internet me cansa, que o FaceBook só não me esgota porque eu não deixo, que os emails me espremem as energias do tempo que levo a apagar emails que nem abro. No entanto, todos estes citados são inocentes. E eu também. Porque na verdade gosto de ir sabendo dos meus amigos (enfim, aquela catrefada de quatrocentos e tal…), mas são todos seres, são todos gente, são todos boa gente, são todos linda gente e há muitos tipos de amigos, a começar por nós. Vale a pena parar para pensar que tipo de amigo somos nós para os outros. Seremos sempre o mesmo amigo, a mesma amiga? Ou vamos mudando o tipo de amigo consoante o outro tipo de amigo? Ou o tempo? Ou o crescimento? Sendo que isso não é necessariamente mau. A única coisa que pode não ser boa é não ter consciência disso, ou ter disso uma consciência distorcida…
E para nós mesmos, que tipo de amigo ou amiga somos? Somos sempre nosso amigo? Seremos o nosso maior amigo? Ou contamos com alguém para assumir essa responsabilidade que nós não queremos tomar?
São perguntas que parecem um bocado parvas, mas talvez valha a pena parar um bocadinho a olhar para elas sem preconceito e sem pudor.
Mas dizia eu que não gosto de diabolizar nada e por isso lá vou convivendo com o correio electrónico tal como o criei, umas vezes disciplinadamente, outras por atacado apagando emails, sabendo que de vez em quando aparece um email com ouro dentro. Por isso, é uma operação muito delicada que exige atenção, sensibilidade e atitude tranquila.
No outro dia, a minha querida e preciosa amiga Raquel enviou-me um email assim como o texto acima, que coloquei em epígrafe. Era exactamente como está, tirando os cumprimentos e as despedidas. A Raquel é ainda daquelas, como eu, que cumprimentam e se despedem, somos do tempo das cartas.
Gostei tanto, mas tanto, que lhe escrevi a pedir autorização para usar o texto como epígrafe de uma crónica, ao que ela prontamente respondeu afirmativamente com palavras tão amáveis que prefiro não reproduzir, porque certamente alguém iria achar-me vaidosa e lá se me ia a máscara de modéstia. A Raquel deve ter pensado que eu iria escrever uma crónica sobre um tema solene, e eu, talvez inicialmente, também. Talvez ainda me venha a lembrar sobre o quê. Afinal, saiu-me isto: a imensa alegria que me deu receber um email dela tão verdadeiramente belo, porque sei como ela é e sei que quando escreve uma coisa assim é porque essa coisa já existe em diamante dentro de si.
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