Risoleta C Pinto Pedro
Devastações e outros Fastos, Domingos Oliveira
Conhecia dele Pimpão e os Leões. Deliciei-me então, surpreendida.
Aparece-me agora este livro recheado de poemas escolhidos. Se esta é a criteriosa e exigente escolha que imagino, começo a imaginar e a desejar a "arca" dos recusados. Aparecerão um dia, serão alguma vez escolhidos?
Aparecem estes organizados em grupos por anos, que têm início em 1988 e terminam em 2008. Colheita da melhor cepa.
Comecei por ler os últimos (o direito do leitor, um direito que a poesia, pela sua natureza, reforça) e depois fui aos primeiros. Deixei para o fim os do meio. Comecei placidamente, com deleite, mas uma fúria me tomou, como uma indignação ou espanto.
E perguntei-me, e pergunto: Por onde tem andado este Poeta? Por onde a Poesia dele?
Apetece-me não continuar este artigo, porque nada mais tenho a dizer. Apetece-me antes pôr aqui alguns poemas, não o livro todo, que não poderia, mas abrir ao acaso e saber que seja qual for será Ouro. Ouso.
De "Os Bárbaros" (2008), pousa-me o olhar aleatoriamente num deles:
"IV
Sempre em fogo os teares
os desejos
cozidos como barro."
Resiste a esta minha ceifa. Mesmo pertencendo a uma sequência de pequenos haikais (digo eu) formando uma narrativa onde se conta poeticamente o horror.
Esta poesia não se parece com outra e o estilo deste poeta não se parece com o estilo de ninguém, mas faz-me viajar vagamente até ao melhor dos clássicos, até ao melhor dos modernos, até ao melhor dos melhores. De todos os lugares e de todos os tempos.
Vejam:
"NOTAÇÕES SOBRE O JADE (2002)
1 o tempo, o sensível buril (I)
*
passa em nós que passamos nele
o tempo, de jade, o seu arremesso
*
e no entanto, deus cego
trabalhou como escravo no rosto
a cicatriz febril
*
invisível no jade
a larva, o que roendo o precioso
ser da pedra, ilumina"
Disse.
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