2011-02-09



Risoleta C Pinto Pedro


Dorothy Crowfoot Hodgkin, por Raquel Gonçalves-Maia

Dorothy Crowfoot Hodgkin, por Raquel Gonçalves-Maia Falo hoje de um tipo de livro que já tinha saudades de ler, por mais do que uma razão: pela escrita viva e sedutora de Raquel Gonçalves-Maia, e por se tratar de uma biografia, género que aprecio particularmente.

Este livro, que teve uma apresentação que a personagem e a autora merecem, com a dignidade que a Residência do Embaixador em Portugal do Reino Unido lhes (não confere, porque já a têm) realça, apresenta para mim a curiosidade que me deixa sempre perplexa quando recuo a acontecimentos que se deram já em minha vida, mas que eu não consigo recordar por serem na altura, excessivamente distantes e extraordinários para a criança que eu então era. Refiro-me, concretamente, ao prémio Nobel da Química recebido por Dorothy em 1964.

Mas falemos antes de Raquel, uma mulher, escritora, cientista, divulgadora e ser humano que, essa, não me passou despercebida nesta minha estadia aqui, porque tenho lido praticamente tudo o que tem publicado, da divulgação científica à ficção.

Diz, sinteticamente, a sua biografia neste livro:

"É química por formação e renascentista por vocação. Trabalha a ciência, a História da Ciência e a Filosofia da Ciência.

Desenha pontes entre a Ciência, a Arte e a Literatura. Divulga."

Tão sóbria e tão intensa. Parece imenso e é imenso.

Mas o livro, o recente livro centra-se numa mulher, cientista, responsável por algumas das maiores descobertas da actualidade: Pepsina, Penicipina, Colesterol, Vitamina B e Insulina, por exemplo. O interesse do livro sobre Dorothy Crowfoot Hodgkin não reside numa narrativa seca do trabalho e descobertas, mas no conhecimento vivo que mostra da mulher, mãe, ser humano, investigadora e professora.

Uma mulher que foi mãe dos seus filhos e mãe dos seus irmãos, quando se encontrava ainda a estudar. Filha de uma família muito pouco convencional, não era rara a ausência dos pais; ela própria viria a repetir este figurino familiar, com as ausências do marido em missões em África, e ela própria necessitando de se ausentar devido à sua actividade científica e mesmo por razões de saúde. Uma artrite não suavizou a existência a esta mulher apaixonada pelo estudo e pela investigação, mas não alheada do mundo em que vivia, nomeadamente pela política, o que chegou a trazer-lhe alguns dissabores.

Não vou aqui contar a história que está exemplarmente narrada no livro, mas deixo claro que encontramos aqui não apenas a história desta mulher e dos seus "amores", mas também de uma época, de uma sociedade, para não falar de um retrato interessante do meio científico que ela percorreu. Com o interesse acrescido de a autora ter recorrido a testemunhos vivos sobre a personalidade estudada, o que se torna evidente na vivacidade, visibilidade e proximidade que a escrita confere à vida desta mulher.

Apetece entrar numa máquina do tempo para ir conhecê-la, conversar com ela, saber o que ficou ainda por saber a esta mulher que recusava os convites para eventos sociais pela razão que sempre apresentava : "I've got to know!". O que fez, ou sobejamente tentou. E conseguiu. Mas fica claro, por esta biografia, que não lhe foi suficiente.

Uma leitura a partilhar e divulgar. Com prazer.

GONÇALVES-MAIA, Raquel. Dorothy Crowfoot Hodgkin. Lisboa. Ed. Colibri. Julho de 2010



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