Risoleta C Pinto Pedro
ELOQUÊNCIA
Adoro ouvir falar, na televisão, jogadores de futebol alemães. O que acontece raramente, mas durante o recente Mundial aconteceu-me várias vezes. O que é extraordinário, porque vejo pouquíssima televisão, mas das poucas vezes que liguei o aparelho lá estavam eles, jogadores alemães a falar. E muito bem. Eram jogadores de futebol, sabia-o, por causa do cenário, do vestuário, etc, muitos indícios que não me deixavam enganar, mas aquele alemão ali a falar podia ser um realizador do novo cinema alemão, um jovem compositor, um deputado dos verdes, sei lá…
Ficava sempre encantada porque falam bem, com desenvoltura, não parecem fazer demasiadas pausas, o tom é eloquente e não se assemelha muito àquele tom que todos conhecem e que fez escola entre os jogadores nacionais, entrecortado, por impulsos, uma palavra de cada vez.
Com os alemães nada disso, falam mesmo, mesmo, como… os outros alemães! É verdade que não percebo uma palavra de alemão para além de uma ou outra frase das cantatas de Bach, e verdade seja dita que não reconheci nenhuma frase das que conheço no discurso dos jogadores, mas isso até se compreende.
No entanto este facto de o discurso destes jogadores soar aos meus ouvidos como diálogos de Wim Wenders ou Fassbinder, deixa-me a esperança que aos ouvidos de um alemão, por exemplo, os discursos engasgados de alguns dos nosso jogadores soem já não digo aos diálogos de Manoel de Oliveira, mas pelo menos, vagamente, a António Lopes Ribeiro.
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