Risoleta C Pinto Pedro
O ANTIGO E SEMPRE PRESENTE SOL
Tranquilizava eu (ou tentava fazê-lo) uma menina com medo da noite e do escuro (seria eu mesma?) explicando-lhe (até lhe fiz um desenho) que a noite é apenas um sinal de dia, o sinal de que noutro sítio é dia e que de que não tardará a voltar a sê-lo onde nos encontramos.
Ao ler Thoreau descrevendo um pôr-do-sol sobre um prado e a indescritível beleza que na sua escrita se torna uma outra beleza pela capacidade de recreação do que só ele viu, porque ainda que lá tivéssemos estado cada um de nós teria visto o seu próprio pôr-do-sol, recordei-me de um episódio, há dias, quando me encontrava na esplanada de um centro comercial, com o rio à minha direita, mas o vento já excessivamente frio do final de dia me fez recorrer ao interior, com alguma pena. No entanto, ao deparar, já depois de sentada, com o espectáculo do sol a pôr-se, à minha esquerda, senti-me totalmente compensada da privação de rio. E pensei: bastaria a sua visão para nos fazer felizes. Para não falar do calor, da luz e cores que traz ao mundo, da saúde, da fertilidade. Pensei ainda: como aconteceu tudo isto para nos afastarmos desta presença, desta evidência, desta verdade? Em que momento virámos as costas ao sol? Num prado, numa auto-estrada ou num centro comercial, a beleza do sol é sempre a beleza do sol. O sol foi posto no Universo para que nunca nos esquecêssemos que a beleza existe, fora e dentro de nós. Tal como o sol. Para traduzir isto valem-me as palavras de Henry David Thoreau a propósito dos galos, esses sóis sonoros: "... e com uma repentina efusão, regresso ao meu ser."
E não resisto a continuar:
"Assim deambulamos [...] até que um dia o sol brilhe mais do que nunca, talvez nas nossas mentes e nos nossos corações, e ilumine a totalidade das nossas vidas com uma luz intensa que nos desperte, tão doce, serena e dourada como a de um regato no Outono."
risoletacpintopedro@gmail.com
http://aluzdascasas.blogspot.com/
|