Risoleta C Pinto Pedro

Thoreau conta, num dos seus livros, que um dia subiu a um alto pinheiro e aí encontrou, nos ramos mais elevados, algo que nunca suspeitara existir: uns pequeníssimos rebentos vermelhos da flor fecunda do pinheiro branco. Trouxe para baixo a rama mais alta e mostrou-a às pessoas, que a olhavam como se se tratasse de uma estrela caída do céu. Isto conduziu-o a uma reflexão sobre as belezas que se erguem na terra fora do alcance dos nossos olhos e de como os arquitectos construíam as catedrais pondo tanto cuidado e perfeição nas mais altas pedras, como naquelas que se encontram ao nível dos nossos olhos. À semelhança de Deus.

A mim, esta história fez-me lembrar que ainda hoje os pedreiros costumam colocar uma árvore no cimo dos prédios, quando a estrutura se encontra concluída. Ou pelo menos costumavam fazê-lo há relativamente pouco tempo (a partir de certa altura o muito e o pouco no que se refere ao tempo e a outras coisas, como as alturas e a profundidade, começa a ser bastante relativo).

Eu continuo a andar pela cidade com os olhos postos nos pontos mais altos das casas e a encontrar nelas, sempre, renovados encantos e surpresas. No Natal, apesar do ruído do aproveitamento comercial, é difícil não ver em cada árvore acesa, nas casas, nas ruas ou nas montras, uma estrela voluntariamente descida do céu para nos visitar, para nos evitar termos de subir ao mais alto pinheiro à procura das luzes, dos reis magos ou dos mais belos rebentos.



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