Risoleta C Pinto Pedro
GATOS E TÍLIAS
Têm sido fonte de fértil e frequente meditação, os gatos e sua majestosa tranquilidade. Comecei a imitá-los ao acordar, no bocejar, nas extensões dos músculos, e verifiquei que os animais têm ainda no corpo a sabedoria que nos fugiu inteira para a mente, com os prejuízos que se sabe. Mas este espreguiçar, este bocejar, não explicam tudo. É claro que não têm horários, nem vão à escola e ao trabalho, o que já explica muita coisa, mas ainda assim não chega.
Foi a minha tília que me deu uma pelo menos satisfatória explicação.
As tílias têm o florescente hábito de desenvolver folhas na parte do tronco que está junto à terra. Assim são as tílias da terra, mas verifico que as imigradas em vasos lhes seguem os passos, ou o hábito, embora não estejamos a falar de peregrinos nem de monjas, embora de seres igualmente atraentes.
Esta minha tília vive modestamente num vaso donde sabiamente consegue retirar o pouco que lhe dou, uma reduzida quantidade de água e vitaminas que a escassa terra consegue reter. Daí o meu espanto quando comecei a ver nascer e crescer copiosas folhas tenras em variados ramos. No entanto, apesar do meu sempre encantamento perante o milagre da multiplicação da vida, nada de extraordinário até aqui. Começou a sê-lo, embora por outro lado me trouxesse uma explicação para o que me acostumei a considerar natural, que as folhas aparecessem roídas. Lagartas, não tenho. Tenho gatos. Ficou tudo claro quando vi um deles atirar-se às folhas de tília. Escassez não há cá em casa, a comida não falha, fome não é. Para purga têm outras ervas, coisa que também não falta. Resta a explicação da sabedoria medicinal. Os gatos comem tília assim, a fresco, a frio, com ar deliciado. 'O teu alimento é o teu medicamento'. Eles sabem-no. Ainda bem, porque não tenho cá 'xanaxes'.
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