Risoleta C Pinto Pedro
Reflexões em torno do Paraíso III
Dizia Helena:
- Com a dita emancipação, as mulheres ganharam o direito… a trabalhar mais! Até então trabalhavam em casa, depois passaram a trabalhar em casa e no emprego. Bonito serviço!
- Não estamos a falar de libertação, Helena, mas de um equívoco.
Para chegarmos às qualidades masculinas, relacionadas com o poder, não podemos recalcar as femininas, relacionadas com o amor. Do mesmo modo, os homens só serão verdadeiramente poderosos quando conseguirem assentar esse poder numa forma mais amorosa de estar. A Força sem a Beleza é tirania. A Beleza sem a Força é anemia, a Beleza e a Força são a sabedoria. Estamos “condenados” à união.
- Hum… isso soa-me a prisão.
- Impressão tua. Tudo isto só vive na liberdade. Estamos a entrar (lenta, lenta, lentamente…) num tempo novo. Não será possível de outro modo…
- Mas as mulheres têm sofrido tanto… como perdoar?
- Ah, essa é a parte mais fácil…
- Como?!
- Não há culpa, logo não há nada a perdoar. Se algo há a perdoar é ao nosso próprio lado masculino por o termos deixado todos estes séculos tão… abandonado, tão desgovernado.
- E como é que se faz isso?
- Não é certamente vestindo-nos como homens, nem tendo comportamentos sociais falsamente considerados masculinos, embora isso seja com cada uma, também não é impeditivo, não vamos é confundi-lo com o essencial.
- E o que é o essencial?
- È, por exemplo, levar para os sítios por onde andamos, como as famílias e o trabalho, o espírito de cooperação, em vez dos vícios da competição.
- E então?
- E então, Helena? Não achas que o “mais para mim e menos para ti”, já deu demasiado mau resultado? Que tal começar a experimentar o “quanto mais para mim e para ti, melhor para nós”? Exponencialmente. Em vez do espírito de que quando um ganha o outro tem de perder, por que não exercermos a nossa criatividade a favor do “ambos podemos ganhar”? E é preciso e urgente ensinar isso às crianças.
- E isso é realista?
- Isto “é que é” realista. O resto, já se viu, leva à guerra, à dilaceração, à tristeza, ao abandono, à doença, à pobreza, ao abuso, à solidão…
- Chega, chega…
- É o realismo… pois chega, também acho que chega, Helena… Chega de terem de ser sempre as mulheres a perder e a sacrificar-se, coisa que elas permitiram, coisa que nem sequer é necessária, que nem sequer funciona, que nem sequer é uma boa ideia!
Já é tempo de substituirmos pela mulher real, a mulher inventada pela imaginação dos homens. Já é tempo de deixarmos de reprimir o feminino e regressarmos ao paraíso. Os homens, ainda que parecendo resistir um pouco, estão tão ansiosos como nós. Andam cansados, coitados. Sete mil anos de patriarcado, é obra!
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