Risoleta C Pinto Pedro Afinal, a fruta ainda tem perfume.
Já não a guardam é nos sótãos. Talvez porque já não há sótãos. Ou porque os sótãos é que já não são o que eram.
Costumamos depreciar a fruta actual, e conto-me entre essas pessoas, dizendo que já não tem qualidade, já não tem sabor, já não tem aroma, nem bichos. Afinal, verifico que não é bem assim. Moro no coração da cidade, numa das muitas aldeias que ela ainda guarda escondidas no seu seio, ou ventre ou coração. Num pequenino pátio interior que tenho, iludo-me imaginando que estou algures entre a Andaluzia, o norte de África, o Alentejo, um quintal de Alfama do século XV ou algum dos vários quintais da minha infância, contando entre esses os dos meus avós. Num deles tinha uma espécie de casa da árvore, noutro, muita terra para chafurdar com água, noutro ainda, um esconderijo atrás da capoeira, e sempre, sempre, subindo um pouco, os sótãos. Onde entre outras maravilhas e segredos se guardava a fruta, no chão, sobre um saco de serapilheira. |
LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS
DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS LIVROS DISCOS