Risoleta C Pinto Pedro Reflexões em torno do Paraíso I
Estavam várias mulheres e falavam entre si, sobre si. Eu ouvia. E processava. Cheia de vontade de participar, mas a conversa, sendo comigo, não era comigo. O tema dizia aparentemente respeito às mulheres (era sobre a questão do feminino no mundo), mas é claro que tudo o que tem a ver com as mulheres tem a ver também com os homens. Porque são nossos filhos, nossos pais, nossos irmãos, esposos, companheiros, amigos, parceiros, colegas. E vivemos todos no mesmo mundo, enquanto mundo houver. Já uma vez a mulher se expulsou do Paraíso. Da segunda vez foi expulsa juntamente com o homem. (Eu sei que a história que se conta não é bem assim, mas há por aí muitas histórias muito mal contadas.) Seja como for, não queiramos repetir o que já deu (vê-se) mau resultado. É claro que estamos a falar de mitos, mas é sempre de símbolos e mitos, digo, da alma da humanidade, que vale a pena falar. Desde que teve início, na História, a repressão do feminino, os homens sofreram tanto com isso como nós. E cada vez mais. As coisas, se não estão fáceis para nós, muito menos o estão para eles. Num tempo em que os valores a repor são os do fluir, do saber receber, do criar e da coragem de assumir a vulnerabilidade (sem vulnerabilidade não há transformação), não nos é difícil a nós (excepto para as mulheres que se convenceram que serem livres, bem sucedidas e reconhecidas era imitarem os homens), são valores que, embora possam ter estado muito tempo adormecidos, continuam a ser a essência da nossa natureza e estão “cá”. Qualidades que precisamos de trazer ao de cima, assumidas sem vergonha, para o “despertar”. Há uma eternidade que somos “belas adormecidas”, já é tempo de acordarmos. Como somos: vulneráveis, criativas, receptivas, fluindo no mundo. De preferência a dançar. Ou a representar. Ou a cantar. Ou a cozinhar. Ou a bordar. Ou a dirigir. Ou a liderar. Ou a ensinar. Ou a governar. Segundo a nossa sensibilidade. Chega de histórias de dinossauros. É necessário não termos medo de fazer essas coisas todas, mesmo que nos sintamos ainda diminuídas, desvalorizadas. É preciso darmo-nos autorização para nos sentirmos pequenas a fim de podermos receber a grandeza. E fazermos perguntas. Mesmo que não tenhamos respostas, mesmo assim, é preciso fazê-las. |
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