2009-08-12


Risoleta C Pinto Pedro


I had a dream



Sim, tive um sonho. Depois de ver um vídeo sobre um evento, uma espécie de happening em Inglaterra, em que num amplo espaço público, como talvez uma estação de comboios, umas dezenas de bailarinos normalmente vestidos como os transeuntes, após semanas de ensaios e com o auxílio de um amplificador transmitindo uma série de músicas de uma coreografia planeada, dançaram, contagiando o público, perante uma série de câmaras escondidas.

Imaginei isto a acontecer na problemática linha de Sintra, nos espaços mais dolorosos das nossas cidades, e a acontecer com frequência. Sempre tive a convicção que não é com polícias que se incrementa o nível de segurança nas ruas. Estamos a viver tempos diferentes, os problemas actuais atingiram níveis tão excessivos que já não se compadecem com soluções do passado.

Começo a visualizar grupos de bailarinos invadindo com frequência espaços públicos cinzentos, monótonos, perigosos e tristes. A dançar, como se via no vídeo. De que modo terão aquelas pessoas chegado aos seus habituais locais de trabalho depois de terem ensaiado alguns passos que lhes irromperam irreprimivelmente dos pés?

Uma companhia nacional de bailado deveria fazer isto. Mas também as outras. Dançar nos palcos, danças nas ruas, dançar dentro dos medos e transformá-los em movimento e música. Não conheço outra forma de combater o medo.

Sei por mim, que normalmente vou a ouvir rádio no caminho para a escola, certas músicas que particularmente me comovem ou elevam e enchem de felicidade, a vontade que transporto comigo ao entrar à porta da escola e da sala, de contagiar com esse sentimento tão diferente de campainhas de entrada, manuais escolares e testes…

Imaginei também os alunos da minha escola, que é uma escola de ensino artístico, invadindo as carruagens de um metro de forma massiva e colocando-se à frente das pessoas sorrindo-lhes, olhando-as e desenhando-as e oferecendo-lhes papel e lápis num convite a que o façam também…

Sonho ainda com bandos de actores entrando amável e decididamente pelos jardins onde idosos aceitam a presença do sol na pele, em salas de espera de hospitais. E segredam-lhes aos ouvidos… poemas de amor.

Como passaria a ser o mundo se isto acontecesse? Não seria igual. Seria certamente melhor. E aconteceriam mais milagres.

Vivemos um tempo em que as revoluções já não se fazem pelas armas, mas pela arte, pela felicidade e pelo amor. Um dia, isto não vai ser um sonho. Sei que vai acontecer.  



risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/



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