Risoleta C Pinto Pedro
O repouso de Deus
É (e era, e é) uma vez uma menina que gosta(va) da escola. A escola também gostava dela. Talvez porque a saúde dela era frágil, ou por ser sensível e inteligente e viva, a escola e a professora gostavam especialmente dela. Também por ter uma saúde frágil não pôde prosseguir. Ficou-lhe o silencioso desgosto. E Deus ficou triste por não ser omnipotente.
A menina foi crescendo e foi-se entretendo. Recuperou a saúde e teve ela própria uma menina, que ensinou a ir à escola. Fez bem o trabalho de casa que a escola não lhe encomendara. Fê-lo muito bem. A segunda menina cresceu indo à escola e a menina mãe ia no intervalo da manhã levar-lhe um lanche de leite com chocolate e bolo de fruta. Da escola, esta era a parte de que a menina da menina mais gostava. Não lhe estava tanto no goto ou no gosto a escola como à menina mãe, talvez por isso, mas tudo correu bem.
E Deus viu a obra e achou bem. E pensou: agora que as duas meninas estavam grandes e a menina maior fizera tão bem o seu trabalho de casa, chegara o momento de repor a ordem no mundo dela. Deus interrompeu então o seu repouso e criou mais uma universidade da terceira idade. Naquela vila perdida entre pinhais, embora agora não tanto por causa das auto-estradas. E a primeira menina voltou à escola, comprou cadernos e separadores e gostou. Agora as manhãs dela são um rodopio para deixar a casa em ordem e o jantar semi-preparado, porque as tardes passaram a ser diferentes. Acabou-se o chá das cinco no café, e ela circula entre a aula de inglês e a de cidadania, entre a aula de teatro e a de música, entre a aula de informática e a de português. Deus pôde então respirar sem remorsos, estando finalmente o mundo em ordem.
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