Risoleta C Pinto Pedro
Cinema: Amélie a Pauline
Dois filmes, duas mulheres.
O último é recente, vi-o há dias, o outro já há mais tempo. Creio que “toda” a gente o viu e “toda a gente” falou
Têm em comum o olhar feminino (que não é exclusivo das mulheres, há homens assim, que não são menos homens do que os outros, mas muito mais atraentes), a atenção ao outro, a atenção à vida. São personagens que ainda respiram. Claro que, respirando, arriscam-se a sofrer. É o preço. Mas continuam a respirar e a seguir arriscam-se a ter prazer, a amar, a rir. É a recompensa.
Neste último filme (Um dia de cada vez), há uma cena (há mais, mas esta é especial para mim), a aula de flamenco, que não fica atrás do melhor Charlot. Amélie é o lirismo, Pauline também, mas temperada pelo burlesco, eu diria uma personagem entre Tati e Charlot, na versão feminina, infantil e inocente. Desbocada, em todo o seu esplendor.
O cinema pode ter um efeito regenerador, como um xarope, um duche de cascata, uma sessão de lágrimas ou de gargalhadas, uma noite bem dormida ou um banho turco.
Há filmes que gostaríamos de ter realizado (mas como é que ele se atreveu a realizar o “meu” filme?), personagens a que gostaríamos, com uma varinha de condão, de dar vida. Na verdade, eu esperava, na minha vida, uma personagem como Pauline, como Amélie. Compreendo Woody Allen quando põe as personagens a saírem (a entrarem?) da tela. Ou os surrealistas quando põem as pinturas a saírem dos sonhos. De facto, as nossas vidas sem a imaginação, sem a “outra vida” que vivemos nos livros, nos sonhos, na imaginação, ficam incompletas. Precisamos dessas personagens para nos reconhecermos melhor, porque elas são partes nossas que talvez já não víssemos há muito tempo. Partes do puzzle finalmente encontradas. Desde que Amélie e Pauline entraram na minha vida, sou mais eu. E nota-se.
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