Risoleta C Pinto Pedro
A revelação dos sonhos
Há uns estranhos, muito estranhos, do universo dos surrealistas, outros literais como a vida (são os mais enganadores), outros desafiadoramente simbólicos.
Assim foi este. Nele eu corria, o que me ocorre, dentro e fora dos sonhos. Cada vez com menos pressa, corro. Foi coisa que aprendi quando deixei de ter pressa, que a corrida é coisa demasiado séria, daí não ser coisa para pressas. Se estás atrasado detém-te e reflecte, se estás sem pressa, podes correr. Sempre ouvi dizer: “devagar que tenho pressa”; dantes não percebia o paradoxo, mas agora faz-me todo, mas todo o sentido, nem uma pequena ponta de sentido fica de fora.
Então, no sonho eu corria, com meu parceiro de vagares. Nós e os cães. Um cão negro, dois cães de um castanho avermelhado, e três cães brancos. Eu levava pela trela o cão negro, o meu parceiro de cães conduzia os vermelhos e os três cães brancos corriam vagarosa e vagamente à nossa frente. O cenário era o do Campo Grande actual, ou o do campo de Cesário, ou ainda a pastagem de um rebanho de Caeiro, porque é de um cenário de sonhos, logo poético, que se trata. Preto, vermelho e branco num cenário de verde. Os carros tinham sido varridos pela vassoura do Grande Jardineiro ou então estava-se em dia sem carros, que é mais ou menos a mesma coisa, embora os sonhos não precisem de grande explicações para justificar as suas idiossincrasias ou a estranha normalidade que seria percorrer o Campo Grande na companhia de seis cães amigáveis na tranquilidade de um Hyde Park. O túnel estava lá, mas apenas servia para criar diversidade no cenário, que era para que os túneis deviam servir.
Na verdade, tirando a ausência de carros, este sonho praticamente poderia não o ser. Uma cena de jogging com cães poderosos na corrida e doces no olhar, em cenário de parque londrino não é assim coisa tão improvável. Não querendo ser abusiva na interpretação do sonho, creio que foi, não mais do que isto, o que este sonho me quis dizer. O recado está dado. E recebido. E aceite. E testemunhado. E agradecido.
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