2008-11-26
QUARTA-CRESCENTE


Risoleta Pinto Pedro


AFECTOS E AFECTOS

- Depois que resolveu alguns falsos problemas relacionados com apegos, Helena começou a valorizar mais os afectos…

Contava eu a Eulália.

- E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Apegos e afectos?

- Precisamente, nada. Uma estava a empatar a outra.

- Mas Helena sempre valorizou os afectos…

- Refiro-me a outro tipo de afectos…

- Há afectos e… afectos?

- Claro! Refiro-me aos segundos.

- Aos… ?

- … afectos sem porquê.

- Como é isso? Um afecto não tem sempre um porquê?

- Alguns sim. Refiro-me aos outros.

- Quais são os porquês e os não porquês dos afectos?

- Os porquês são todo o tipo de conveniências, desde o pensares como eu até ao dares-me o que eu te peço.

- E os sem porquês?

- São isso mesmo.

- O quê?!

- É sem porquê. Basta estares viva, mas realmente viva, e respirares, mas realmente respirares para seres digna do meu afecto.

- E se eu já não estiver viva?

- Há mortos mais vivos que alguns vivos mortos.

- E se eu for uma viva morta? Já não sou digna do teu afecto?

- Digna és sempre, mas já não serás alvo do meu afecto. Também tenho as minhas fraquezas.

- Então?

- Serias alvo da minha compaixão.

- Ó Vitória, vai dar uma volta, tem dó! Tanta presunção.



A Vitória sou eu. É preciso uma grande distracção da parte de uma personagem, ainda por cima protagonista, para deixar resvalar a veia narrativa até uma desconsideração destas, por isso retiro-me. O que eu queria dizer a Eulália está dito. E Helena há-de ler-me. Do narrador(a?) hei-de vingar-me na próxima oportunidade. Ainda que tudo se revista de uma grande aparência de esquizofrenia, isto não fica assim.



risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/



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