Risoleta Pinto Pedro
AFECTOS E AFECTOS
- Depois que resolveu alguns falsos problemas relacionados com apegos, Helena começou a valorizar mais os afectos…
Contava eu a Eulália.
- E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Apegos e afectos?
- Precisamente, nada. Uma estava a empatar a outra.
- Mas Helena sempre valorizou os afectos…
- Refiro-me a outro tipo de afectos…
- Há afectos e… afectos?
- Claro! Refiro-me aos segundos.
- Aos… ?
- … afectos sem porquê.
- Como é isso? Um afecto não tem sempre um porquê?
- Alguns sim. Refiro-me aos outros.
- Quais são os porquês e os não porquês dos afectos?
- Os porquês são todo o tipo de conveniências, desde o pensares como eu até ao dares-me o que eu te peço.
- E os sem porquês?
- São isso mesmo.
- O quê?!
- É sem porquê. Basta estares viva, mas realmente viva, e respirares, mas realmente respirares para seres digna do meu afecto.
- E se eu já não estiver viva?
- Há mortos mais vivos que alguns vivos mortos.
- E se eu for uma viva morta? Já não sou digna do teu afecto?
- Digna és sempre, mas já não serás alvo do meu afecto. Também tenho as minhas fraquezas.
- Então?
- Serias alvo da minha compaixão.
- Ó Vitória, vai dar uma volta, tem dó! Tanta presunção.
A Vitória sou eu. É preciso uma grande distracção da parte de uma personagem, ainda por cima protagonista, para deixar resvalar a veia narrativa até uma desconsideração destas, por isso retiro-me. O que eu queria dizer a Eulália está dito. E Helena há-de ler-me. Do narrador(a?) hei-de vingar-me na próxima oportunidade. Ainda que tudo se revista de uma grande aparência de esquizofrenia, isto não fica assim.
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