Risoleta Pinto Pedro
DO CHORO
Cenário: um hospital. moderno, mas para o caso tanto faz. Longe e perto começa a ouvir-se o choro de uma criança. Repete-se. E outro. E outro. Afinal são várias crianças, que não vejo. Percebo que se trata da área da pediatria, mesmo ao lado. Compreendo finalmente por que razão se ouve sempre uma criança a chorar.
Uma delas chora desafiadora, escandalosamente, como se estivesse em casa, contra todas as regras de boas maneiras, grita, berra, sem pudor.
Aqui, na sala onde me encontro, os adultos estão todos bem comportados, sentados e silenciosos, apesar de, nalguns casos, a dor atravessar a pele do rosto. Ao lado, choros e ranger de dentes. Literalmente.
Mas é mais tranquilo ali ao lado. Chora-se porque sim até apetecer e o alívio é uma garantia depois do choro.
Aqui, sente-se a quase inveja. Mas foram anos e anos sem chorar, de aprendizagem do não chorar. Ouço o silencioso choro nos olhos de cada um, ao fundo dos olhos as lágrimas congeladas.
Ao lado, o choro corre líquido e os gritos sobem pelas paredes a partir do romper das gargantas.
Sinto saudades do tempo em que chorar não era uma vergonha (excepto nos rapazes…), quando, após o clímax do pranto, nos abençoava a suave euforia da libertação.
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