Risoleta Pinto Pedro

Se a anorexia e a bulimia são doenças da civilização, como explicar que os meus gatos passem a vida a vomitar? Têm uma atracção compulsiva por todas as plantas dos vasos do jardim, não há vaso de ervas aromáticas, não há vaso de sardinheiras, roseiras, cactos ou ervas daninhas que resista a estes gatos civilizados. Num momento estão bem, no momento seguinte os corpos debatem-se em convulsões de agonia e no momento seguinte comportam-se como se não fosse nada com eles. Com a agravante de escolherem preferencialmente tapetes, sofás, chão encerado e outros espaços assim atraentes. De preferência acabados de limpar, de lavar, de aspirar ou de encerar. Sentem uma predilecção especial por zonas desinfectadas e perfumadas, estes espalhadores de pelos, ténias e germens. São neuróticos, rebeldes quase sempre e doces quando lhes apetece, que é normalmente quando uma pessoa está com pressa e não está mesmo numa de fazer festinhas, acendem luzes saltando e tocando com a pata os interruptores, roubam comida da mesa, fogem para as escadas quando estamos cheios de pressa, caem das janelas para a rua, partem patas, saltam de ainda mais alto para os outros terraços e não partem nada, mas temos de ir buscá-los ou proceder a operações de salvamento com bombeiros e tudo porque têm uma predilecção especial pelo período de férias dos vizinhos, comem papel e adoram documentos ou papéis oficiais, testes de alunos, etc. E como se tudo isto não bastasse, sofrem de bulimia e vomitam por todo o lado. A multiplicar por quatro.

Apenas (n)os salva o facto de serem grandes meditadores e conseguirem ficar horas imóveis a olhar para uma parede. É a única razão pela qual suporto ter em casa estes quatro casos perdidos. É que não é para todos, coabitar com quatro mestres em zazen. Só meus.

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