2008-07-02
QUARTA-CRESCENTE


Risoleta Pinto Pedro


O OBJECTO NA GAVETA



Há objectos que ficam para sempre dentro das gavetas. Mesmo que já não existam as casas, nem os móveis, nem as gavetas, nem os objectos. Mesmo que já não consigamos recordar a identidade do objecto, nem a cor, nem a forma, nem o tamanho, nem a função. Mesmo que não recordemos já por que razão memorizamos este facto do objecto dentro da gaveta. Mesmo que já não recordemos bem se o objecto era um objecto proibido ou apenas cobiçado, ou apenas admirado, ou apenas suspeitado. Mesmo que não tenhamos já a certeza se o objecto alguma vez existiu. Mesmo que não tenhamos já uma memória de nós existindo junto para aquele objecto que já nem sabemos se era um objecto de desejo, de temor, ou de amor. Ou mesmo de desamor. Mesmo que já nem saibamos bem se era um objecto ou um projecto de objecto, mesmo que suspeitemos que o criámos no presente para o colocar dentro de uma gaveta do passado. Mesmo que todos nos digam que nunca existiu tal objecto, porque tal objecto simplesmente é impossível de existir, mesmo que o próprio objecto se agigante do passado para nos dizer que ele não existiu e para além de não ter existido nem sequer era daquela forma que lhe queremos dar e muito menos do tamanho que presumimos ter, e que além do mais nem sequer era um objecto, mas apenas um… cheiro!

Nada nem ninguém nos conseguirá convencer que estamos equivocados desde que desse passado, com ou sem objecto, com ou sem gaveta, tenha ficado e assuma forma e espaço e cor e som e perfume, uma incontornável e indiscutível… emoção!



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