Uma crónica de Outono Recuemos a uns dias atrás, não há muito tempo, os últimos dias de calor, num anacrónico Verão de Novembro. Estou em percurso por Lisboa num carro coberto de folhas de Outono (uma árvore em mutação de folhas servira-lhe de tecto nocturno). Na rádio, uma música de um compositor que não identifiquei, mas sem dúvida um contemporâneo, solta notas de um teclado de piano ao mesmo ritmo em que se desprendem do pára-brisas as folhas. As folhas voam, as notas flutuam. Planam as folhas à volta do carro, elevam-se e lançam-se no ar. Soltam-se as notas do altifalante do carro, rodeiam-me a aura ou algo em torno de mim e mergulham a fundo, pé no acelerador em direcção à minha pele e poros e daí saltam em pulo para os pulmões. Pulmão e coração. Respiro folhas, respiro música, respiro um Outono estranho e paradoxal que apesar de tudo acolho como música. Mesmo sabendo qual poderá ser a causa do outonal Verão, do primaveril Outono, de que me serve enraivecer-me contra o tempo, se ele é todo inocência, de que me serve enraivecer-me contra a Terra, se também ela sofre a guerra, se ela me dá o melhor que tem: folhas a voar como colcheias, como pautas de música numa cidade a meio de um Outono atípico… que posso eu fazer a não ser agradecer a este ser que apesar de tudo, de toda a violência e abuso e absurdo, ainda consegue transcender a si mesma e desdobrar-se em mil folhas e adoçar-me e fazer-me…sorrir? risoletapedro@netcabo.pt http://risocordetejo.blogspot.com/ |
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