Não é uma charada, não é um enigma, é uma assinatura. Cada uma das letras corresponde a uma nota, no sistema alemão, que não é o dó ré mi, etc, mas o A,B,C, etc, sendo que ao A corresponde o lá, e por aí fora. Assim sendo, se fizermos umas contas de cabeça, DSCH corresponde a ré, mi bemol, dó e si.

Sabendo que o D corresponde a Dimitri e SCH são as primeiras letras de Schostakovitch, percebe-se que os intervalos ré, mi bemol, dó, si, que é possível encontrar em algumas composições de Schostakovitch correspondem a uma espécie de assinatura sonora semi-oculta, do compositor sob a forma de melodia. Só para quem sabe. Muitos escritores o fizeram (e fazem; eu também tenho a minha pequena e secreta assinatura que só eu sei), muitos pintores o fazem dissimulando no meio da pintura as letras do seu nome, usando carimbos ou pintando-se a si mesmos (como o célebre “Las niñas” de Velásquez, mas tantos outros), alguns cineastas que não são actores o fazem, colocando-se em pequenos papéis nos seus filmes; um saudável pequeno complexo de narciso, uma nota de ironia, um piscar de olhos a si mesmo ou ao público, ou uma imitação do… Criador? Seremos nós a assinatura viva, multiplicada e oculta, de tão revelada, do criador do Universo, nós que nos pensávamos a Obra e o sentido? Seremos nós o ré, o mi bemol, o dó ou o si desta complexa partitura umas vezes tonal outras atonal, para inúmeras vozes e silêncios? Se assim for, eu, que já fui dó e mi, escolho agora, nesta lógica de intervalos de terceira, o sol, onde me aquecerei e retemperarei forças antes da viagem até ao si. De onde tenciono subir para uma oitava acima e assim, de si em si, sucessivamente. Até à imensa paleta de tons que é o arco-íris. Onde tons e sons se confundem em branco, laranja e imensos azuis.

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