Anda este livro comigo já há uns tempos. Poderei dizer uns meses, muitos meses. Tenho o saudável egoísmo dos leitores. Quando me relaciono com um livro de verdade, levo algum tempo antes de atraiçoá-lo com o autor. Quero com isto dizer que a Maria Virgínia Monteiro teve mais uma vez a gentileza de me enviar o seu último livro e eu deixei-me ficar no meu egoísmo do saborear. Hoje, finalmente, decidi-me a partilhar o perfume. Amanhã talvez envie uma carta à Maria Virgínia a agradecer-lhe. Tenho a saudável ingratidão dos leitores.

O livro chama-se Poemas Imperfeitos e é um livro de músicas, digo, de poemas, para os quais a Maria Virgínia, como de costume, fez logo a música, que meteu dentro do poema.

Quando quero ouvir música sem aparelhagem, em total silêncio, escolho alguns poetas, e um deles é ela. Porque consegue ela escrever música sem pauta, só com as rimas, só com as aliterações, só com as repetições. Sem perder a intensidade, sem perder a autenticidade, sem perder a profundidade.

Mas é mais que isso: é um mapa para percorrer a vida, ou, se quiserem, um livro de instruções para as horas difíceis. Poderá até ser um livro de primeiros socorros para quando a vida parece desencantada.

Ela diz, às vezes, que a sua poesia está fora de moda. Eu, que nunca gostei de modas, e sempre lhes fugi como o diabo da cruz, digo que se isso for verdade, ainda bem, pois significa isso que não vai parar ao caixote do lixo no final da estação.

A poesia, quando é de qualidade, não perde facilmente a validade. Estes poemas são, sobretudo, diálogos com a vida nas suas tão diversas e criativas formas, da Primavera a um “tu” que a todos um dia sugeriu nem que fosse um verso.

E como é música, é também silêncio, porque uma sem o outro não existe. É uma poesia que respira porque sempre amplia pelo meio dos versos, um silêncio, um espaço em branco, um descanso entre inspirar       e       expirar.        Uma       brilhante       melancolia.

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