Risoleta Pinto Pedro
ESQUELETOS E INSUFLÁVEIS: UMA MEDITAÇÃO SOBRE PONTUAÇÃO E OUTRAS COISAS DE MULHERES
No outro dia um amigo enviou-me um e-mail com uma brincadeira relacionada com a pontuação, em que dizia assim:
“Vamos ver onde colocarias a vírgula na frase seguinte:
- Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de rastos à sua procura.
Curiosidade:
- as mulheres geralmente colocam a vírgula após o substantivo "mulher";
- os homens colocam sempre a vírgula após a forma verbal "tem".
Eu respondi-lhe assim:
“É óbvio para mim, tão óbvia, a versão com a vírgula a seguir a “mulher”, que nem me preocupei em fazê-lo. Quando li a frase, li-a com a vírgula naquele sítio, para mim a frase nem precisa de vírgula; o meu impulso primeiro foi de colocar a vírgula a seguir a “tem”, porque se o homem soubesse o valor que tem, porque tem, não o que pensa ter, mas o que realmente tem, a mulher andaria de rastos à sua procura.”
E é um facto que para mim aquela frase possui como que uma respiração natural a seguir a mulher, quase dispensa pontuação, por essa razão senti necessidade de colocar a vírgula a seguir a “tem”.
Mas isto do valor da mulher faz-me lembrar o que as mulheres andam a fazer aos seus corpos para se esquecerem do valor que têm (por que será?!). Salvo algumas excepções, ou ficam esqueléticas, ou andam a pôr remendos de silicone em tudo o que é sítio, de modo que algumas mais parecem bonecas insufláveis, fico sempre à espera de as ver levantar voo, mas nunca aconteceu, a misericórdia divina é infinita. Ou talvez também seja infinita a divina crueldade: “Já que te puseste assim, agora aguentas aí, na matéria densa.”.
Aonde nos levam as vírgulas! É inquestionável, a importância da pontuação. Até na escrita de Saramago se vê. Como já mostrei aos meus alunos, mesmo quando retira a vírgula, mantém a respiração. Tal como no exemplo com que iniciei este estranhíssimo texto. Que é melhor que fique por aqui.
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