Risoleta Pinto Pedro
Telemóveis e pirilampos
Eu acredito nos pirilampos. E na luz.
Dantes, um pirilampo era só, era mesmo, um pirilampo. Hoje, pode ser um telemóvel a pirilampar. Um telemóvel, dantes, era só um telemóvel. Hoje pode ser também uma máquina fotográfica, um bloco de apontamentos, uma agenda, uma lanterna. Ou um pirilampo. Um piriplampo pode ser um telemóvel a pirilampar mas não pode ser uma máquina fotográfica ou uma agenda ou um bloco de notas. Mas pode ser uma lanterna, pela noite abaixo. Ou acima. Depende de como estiver a ser a noite. Eu estava na serra de Sintra. Era de noite. Estava eu a percorrer o tempo pela noite acima. No monte da Lua, estávamos eu e a lua. E um telemóvel a piriplampar. Que afinal eram muitos telemóveis sem mãos. A pirilampar. No ar! Afinal eram pirilampos. Um concerto de pirilampos no ar. A afinar. Há quantos anos eu não via pirilampos! Talvez desde a última vez, no Gerês.
O meu passado poético da infância está a voltar desde que lhe abri o coração. Mas volta materialmente, sob a forma de poesia material: ouriços, pirilampos, perfume de poejo, sopa de grão e lua antiga. Lua amiga.
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