Risoleta Pinto Pedro
A SALVADORA DE ESTRELAS
- Hoje salvei uma estrela!
- Quê?!
- Salvei uma estrela!
- Dessas de… Hollywood?
- Não! Uma estrela mesmo, de cinco pontas!
- De cinco pontas! Como se as estrelas tivessem pontas!
- Claro que têm, podem ter cinco, seis, oito…
- Mas essas são simbólicas…
- E lá por isso… já não existem? Pois foi uma dessas que eu salvei!
- Ah! Já devia estar à espera disso!
- Porquê? Já alguma vez salvaste uma estrela?
- Hum… não, que me lembre… tal como a maioria das pessoas… normais…
- Pois é que…
- Helena salvadora de estrelas, conta-me lá isso.
- Andava a aspirar…
- Sim…
- … e vi uma estrela quase, quase a entrar para o cano do aspirador. Dessas fluorescentes, sabes…?, tinha-se descolado da parede…
- E tu… salvaste-a!
- Exacto.
- De…?
- … de ser engolida por um buraco negro. Por isso hoje há mais luz no mundo do que poderia haver se a estrela tivesse entrado no saco do aspirador.
Olhei Helena e não me contive sem abanar a cabeça.
- As pessoas não mudam…
- Pois não, escritora. As pessoas não mudam, e ainda bem que não. Cada um é precioso exemplar daquilo que é, exactamente como é. E além disso pode-se sempre melhorar. Cá por mim… decidi que vou salvar todas as estrelas que puder.
E abalou com um olhar de pena e desprezo. Como quem olha alguém que ainda tem um longo percurso a fazer até conseguir salvar estrelas de cinco pontas. Suponho que a sua próxima etapa será salvar estrelas de David, a seguir talvez estrelas reais, e depois quem sabe, galáxias inteiras. Nunca se sabe o futuro de uma personagem que criámos com todas as imperfeições que conhecemos, até que ponto pode levá-la a revolta. Ou o sentimento de liberdade. Ou um destino a cumprir. Como um filho.
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