2007-05-23
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


“zltimas representagues”

Recebo e-mails com os mais diversos conteúdos e proveniências. Alguns são reencaminhamentos que me chegam misteriosamente desformatados, com as letras todas trocadas, como um que abri hoje e me deixou boquiaberta, perplexa na tentativa de decifração, até que percebi o óbvio.

No princípio era o verbo, e no fim… é isto!:

“zltimas representagues”

Mas voltemos ao princípio, ao verbo, aquela palavra perdida de que uns tantos loucos continuam à procura, aquela que alguns dizem que já conhecemos e de que basta recordarmo-nos. Outros afirmam que bastaria lembrarmo-nos da primeira letra e logo a segunda nos seria concedida, e imediatamente nos recordaríamos da terceira. E o verbo brilharia com todo o seu resplendor. Ingénuos…

Voltemos à história: houve então o verbo em primeiro lugar, algo que não sabemos muito bem o que é, que podia ser algo como um sopro amoroso, mas que também pode ter sido algo mais terrível e assustador que um trovão; depois não sabemos o que se seguiu, há aqui um hiato, mas a partir de certa altura sabemos que foram os grunhidos, os gestos, seguiu-se a linguagem mãe, as várias línguas, até chegarmos num ápice à nossa cultura, digo às últimas representações: o código dos chats, as abreviaturas dos sms e agora esta coisa que não sei como designar.

Já me explicaram que se trata de um problema de leitura entre o PC e o Apple; eu, nestas “zltimas representagues”, inclino-me mais a ver uma espécie de linguagem de pitonisa, uma mensagem misteriosa que é preciso decifrar, e para cuja decifração não sei se algum computador poderá contribuir. Sendo a linguagem uma representação, isto é, uma presentificação de algo preexistente, que talvez seja o pensamento, mas também pode ser o verbo, isto é, uma outra linguagem de que os símbolos, a matemática, a geometria, seriam os intermediários, este declínio da linguagem a que assistimos, poderia se quiséssemos especular, ser uma forma de procurarmos um caminho de comunicação mais directa com o tal Verbo que ninguém sabe o que é, mas que se um dia nos derem a primeira letra, quem sabe se não saberemos soletrar as seguintes?

Reparem como se inicia a palavra “últimas”: com um… “Z”, a última letra!!! Eu não acredito em bruxas, mas conheço algumas… Não parece, mas o mundo é dos inocentes. Para os outros, ainda que não pareça, estamos numa espécie de enganadora apoteose, são apenas as últimas representações. Mas não acreditem nisto, estou só a brincar. Testem o meu delírio ou… esperem para ver. risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/



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