Risoleta Pinto Pedro
A miúda…
… andava na dança, na natação, no piano e no taichi. Era pequenina e surpreendentemente talentosa em qualquer uma destas actividades. Um dia virou-se para Helena e disse:
- Mãe, não quero ir mais…
E Helena:
- Mas aonde filha, do que e que não estás a gostar?
- Eu gosto, mãe, mas não quero ir mais…
- E a quê? A que é que não queres ir mais?
- Não quero ir a mais nada, mãe.
- E porquê?!
- Gosto muito de brincar… preciso…
E calou-se depois do enigmático “preciso…”.
Assim foi; brincou, brincou, brincou… até tarde, e Helena ficou a assistir, respeitando, mas sem compreender, àquela necessidade tão vital de brincar. Depois a menina meteu-se por estudos tão áridos que Helena não compreendia como era possível a um ser tão frágil e delicado passar das bonecas e ursinhos para o estudo da economia, da gestão, das leis.
Passaram-se anos. Um dia, a menina… (que já é uma jovem)..
- Sentou-se ao piano e tocou. Escandalosamente bem!
- Escandalosamente, Helena?!
- Sim! Não tocava há uma série de anos e tocou como se… tivesse tocado no dia anterior!
- E continuaste a não perceber, Helena…
- Então percebi. Entendi que o que aquela menina precisava de aprender era a brincar; o resto era-lhe muito fácil, tão fácil que não valia a pena perder tempo com isso.
- Percebeste a tempo?
- Fui a tempo, porque não esperei para perceber. Percebeste?
- Ainda não, mas ainda estou a tempo…
Neste dia Helena despediu-se de mim com um sorriso.
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