2007-05-16
QUARTA-CRESCENTE
Risoleta Pinto Pedro


A miúda…

… andava na dança, na natação, no piano e no taichi. Era pequenina e surpreendentemente talentosa em qualquer uma destas actividades. Um dia virou-se para Helena e disse:

- Mãe, não quero ir mais…

E Helena:

- Mas aonde filha, do que e que não estás a gostar?

- Eu gosto, mãe, mas não quero ir mais…

- E a quê? A que é que não queres ir mais?

- Não quero ir a mais nada, mãe.

- E porquê?!

- Gosto muito de brincar… preciso…

E calou-se depois do enigmático “preciso…”.

Assim foi; brincou, brincou, brincou… até tarde, e Helena ficou a assistir, respeitando, mas sem compreender, àquela necessidade tão vital de brincar. Depois a menina meteu-se por estudos tão áridos que Helena não compreendia como era possível a um ser tão frágil e delicado passar das bonecas e ursinhos para o estudo da economia, da gestão, das leis.

Passaram-se anos. Um dia, a menina… (que já é uma jovem)..

- Sentou-se ao piano e tocou. Escandalosamente bem!

- Escandalosamente, Helena?!

- Sim! Não tocava há uma série de anos e tocou como se… tivesse tocado no dia anterior!

- E continuaste a não perceber, Helena…

- Então percebi. Entendi que o que aquela menina precisava de aprender era a brincar; o resto era-lhe muito fácil, tão fácil que não valia a pena perder tempo com isso.

- Percebeste a tempo?

- Fui a tempo, porque não esperei para perceber. Percebeste?

- Ainda não, mas ainda estou a tempo…

Neste dia Helena despediu-se de mim com um sorriso. risoletapedro@netcabo.pt
http://risocordetejo.blogspot.com/



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