Tenho sentido as pessoas muito irritadas: isso vê-se na pele, nas alergias, nas atitudes e na expressão em geral.

O fígado é particularmente sensível à Primavera e todos conhecem a expressão “ter maus fígados”. È frequente nesta época as pessoas andarem mais iradas, mais susceptíveis, mais violentas. Não tem nada de mal, é só uma reacção da mente a uma dificuldade de adaptação à transformação, através do corpo. Interessa é que se perceba.

Tenho ouvido as pessoas queixarem-se das mais diversas fontes de irritação: desde os cônjuges, aos patrões, aos filhos, aos pais, aos taxistas, aos clientes, aos programas de televisão, ao governo (estou neste grupo), e até já ouvi pessoas dizerem que as irrita este frio e uma até se queixou da fruta! Sim, da fruta. Estava irritada com a fruta por não ter… sabor! Irritada com a fruta! Realmente esta fruta já não tem o perfume com que enchia os nossos sótãos da infância, mas estes miúdos não conheceram aquela fruta, será por isso que algumas pessoas (ia dizer professores, mas seria injusto) se queixam que esta juventude já não é como era dantes? Donde se depreende que esta juventude já não tem perfume nem sabor? Como a fruta? E a culpa será da fruta?

É um facto que esta Primavera está estranha… ou somos nós que andamos estranhos? Primeiro, um calor!..., praias cheias de gente a tomar banho, depois um frio de neve entrando-nos nas casas e no corpo com um vento cortante. E a fruta que não tem sabor, e a juventude que não come fruta, e o Salazar elevado a pop-star (ia dizer porn-star, o que é um acto falhado, porque isto tem realmente algo de pornográfico), e nós a não percebermos nada da forma como pusemos este nosso mundo, com fruta sem sabor e juventude pensando que sobrevive sem fruta e com… Salazar! Tudo isto me irrita. E nunca mais vem o Verão!

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