Risoleta C Pinto Pedro
«Não esqueças as coisas que os teus olhos viram»
«Não esqueças as coisas que os teus olhos viram, nem as deixes, em dia nenhum da tua vida, sair do teu coração; pelo contrário, ensina-as aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos.»
In: Deuteronónio, IV, 9
Todos sentimos isso em relação à nossa história vivida e contada. E preocupamo-nos, por exemplo, com o facto de os nossos filhos e netos não poderem ter uma noção exacta do que representou o 25 de Abril para aqueles que viveram os tempos anteriores. Como os nossos avós em relação à guerra civil em Espanha. Também alguns dos que passaram e sobreviveram aos campos de concentração nazis têm tido a preocupação de documentar e ir por aí contando. A ideia não é, nem deveria ser, difundir hostilidade e ressentimento, mas a humanidade aprender com os erros e as experiências. Quando isso acontecer, não estaremos muito longe de uma Terra a caminho da regeneração.
Igualmente esta experiência de paragem a nível mundial, com todas as consequências nefastas e as boas, que também as há, não deve ser atirada para trás das costas quando a situação “voltar ao que estava dantes”. Porque não vai e não deve voltar ao que estava dantes. Só assim poderemos honrar os que perderam vidas, os que se sacrificaram. Porque a nós, os que se limitaram a ficar em casa, coube a parte melhor. E tivemos tempo para pensar. Se não o fizemos, foi porque não quisemos.
Que este condicionamento que estamos a viver seja o húmus, não de uma versão apocalíptica da história, mas de uma versão regeneradora, transformadora, humanitária, comunitária, com um mercado fraterno de onde o sentimento de seita tenha sido erradicado.
Que não nos alienemos sobre a importância de aprendermos com as experiências deste especial momento das nossas vidas que não tenho a certeza se se repetirá. Assim, há que aproveitá-lo bem, há que vivê-lo intensamente. É apenas um momento, sim, ainda que à maioria pareça uma eternidade, perante a qual isto é menos que um momento, quase um não-tempo.
Fomos, nestas últimas semanas, erguidos a um lugar importante do planeta: o lugar da reflexão, o lugar da contemplação, o lugar da perplexidade e da compaixão pelo sofrimento do outro, o lugar de onde pode surgir o movimento da consciência de que não estamos sós e de que a responsabilidade pela comunidade também é nossa. Uma inspiração que já vem desde os profetas de todos os orientes e cuja concretização nos cabe agora a nós levar a cabo. Ainda que não estejamos conscientes disso, o momento é único, decisivo e privilegiado. De que modo quereremos nós entrar na história?
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