Risoleta C Pinto Pedro
Da beleza dos números à realidade da tragédia
Todos os dias assistimos à declaração dos últimos números da Covid 19 com, admitamo-lo, uma certa ansiedade. Olhamos os números actuais, comparamo-los com os de ontem e escutamos as previsões sempre em mutação dos que, especializados em matemática estatística, vão comparando, aferindo, prevendo, rectificando e influenciando as decisões através da geometria da progressão do vírus.
Não estamos isolados, não somos estrangeiros, mas em profunda conexão com tudo o que existe. A grande infelicidade é quando não nos apercebemos disto. Temos dentro de nós o cosmos. Existe um rigor tão geométrico quanto poético no Universo, que dificilmente conseguimos ver. Veja-se a cromática elegância do vírus. Tenho a certeza que não é aleatória a sua forma, as suas cores, como as linhas da mão. O vírus vai evoluindo e também as linhas das nossas mãos, as linhas do nosso rosto, o desenho dos nossos corpos. Não acredito na fatalidade nem no inexorável, mas gostava de saber um pouco mais sobre o mistério das correspondências entre tudo o que existe.
Baudelaire soube dizê-lo como ninguém:
«Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Pronunciam por vezes palavras ambíguas;
O homem passa por ela entre bosques de símbolos
Que o vão observando em íntimos olhares.
Em prolongados ecos, confusos, ao longe,
Numa só tenebrosa e profunda unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Correspondem-se as cores, os aromas e os sons.
[...]»
As Flores do Mal, (Tradução de Fernando Pinto do Amaral), Assírio & Alvim
Também a computação das letras feita pelos cabalistas nas suas perturbadoras correspondências com o respectivo valor numérico, pode parecer fortuita a quem não esteja habituado a este tipo de aprofundamento, a quem não mergulhe na perplexidade das correspondências, mas há, sem dúvida, um caminho a percorrer entre as avaliações da equipa do Instituto Ricardo Jorge, de tão complexas sendo, para nós, quase esotéricas, até às rigorosas especulações cabalísticas das correspondências entre as letras, os números e tudo o que existe na Natureza, que só a poesia sabe traduzir.
Não temos alternativa que não seja andarmos por aí agora parados, de olhos esbugalhados para a familiar estranheza das coisas, tão conhecidas e ao mesmo tempo tão misteriosas, mesmo sabendo que poderemos tardar em compreender; que podemos, mesmo nunca vir a saber, sem que estejamos dispensados, contudo, de olhar, ainda que sem ver.
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