Risoleta C Pinto Pedro
A santificada hipérbole que eu não escrevi
Não me sentindo aprisionada por nenhuma religião, fico, assim, livre para ser tocada por aquilo que de melhor cada uma apresenta, pelo que de momento, através das leituras (sempre elas), tenho sido agraciada pela sabedoria rabínica desde tempos recuadíssimos. E, mais uma vez, sempre, pela palavra escrita e pela capacidade que as letras reunidas em palavras e estas em textos têm para desencadear em nós, a partir de um livro, de uma página, de uma só palavra ou até mesmo de uma letra, voos próprios e singulares até reinos desconhecidos, até mundos que julgávamos inexistentes, até partes de nós que não sabíamos vivos. É o caso das palavras sumptuosas do Rabi Eli’eger Bem Hyrcanos, notável mestre do tempo posterior à destruição do Templo:
«Se todos os oceanos do mundo fossem de tinta, todas as rosas cálamos, os céus e a terra rolos de pergaminho e todos os homens escribas, tudo isso não seria suficiente para escrever todas as palavras da Tora que aprendi com os meus mestres, se bem que o que deles recebi seja comparável à quantidade de água tirada por um homem que molha a ponta da sua pena no mar» (Cant. R., I, 2).
Fico quase esmagada quando me deparo com tamanha beleza associada a uma sabedoria rara e capaz de desencadear em nós cornucópias de emoção ética e estética como se fôssemos tocados por algo de mágico e poderoso. E fomos, e fomos. É a palavra, no seu mais alto grau, na sua maior potência elevada pela acumulação dos séculos.
A hipérbole, que todos conhecemos como figura de estilo que exagera a realidade, está aqui presente, bem como a metáfora. A hipérbole, figura literária de todos os tempos, foi largamente usada na nossa literatura durante o período barroco. Muitas vezes de forma leve e superficial, para obter apenas efeitos estilísticos puramente ornamentais. Mas quando ela é usada com o esmero da consciência inspirada por uma intuição superior e uma verdade que ultrapassa as evidências porque está para lá delas, a sua força é quase nuclear, é como um buraco negro que nos arrasta para dentro da sua tremenda e misteriosa força e nos deita por terra para, de joelhos, chorarmos por não termos sido nós a escrevê-la, mas ao mesmo tempo agradecendo, por alguém ter conseguido fazê-lo.
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