Risoleta C Pinto Pedro
Diferentes presépios
Ouvi, recentemente, uma intervenção em que alguém lamentava a actual e crescente preponderância da árvore de Natal sobre o presépio.
Efectivamente, na infância de algumas das ainda presentes gerações, a árvore de Natal estava quase ausente. O presépio estava-nos nos genes. Depois começou a haver uma verdadeira perseguição aos pinheiros, autêntica razia. Pouco a pouco, um movimento de consciência começou a substituir os pinheiros naturais por ramagens produzidas pelos cortes e por árvores de plástico. Entretanto, surgem as preocupações com o plástico e começamos a ver árvores de Natal usando materiais recicláveis. Esta é uma das facetas do Natal, e tem a ver com evolução e consciência. Mas há outro lado, que é o aspecto simbólico. E se a árvore representa a ligação entre a terra e o céu, sendo uma espécie de antena entre a matéria e o Espírito, quase o movimento de Jesus ao contrário, que nasce do Espírito para se materializar à nossa imagem e semelhança, por sua vez o presépio, que nos foi trazido por um dos mais revolucionários cristãos da história do Cristianismo, S. Francisco, representa o surgimento e a celebração da vida.
A arte, ao longo dos tempos, tem vindo a debruçar-se sobre este arquétipo. Ao mesmo tempo constelação, que reflecte sociologicamente cada grupo e tempo. Há presépios para todos os gostos. Sendo a sua matéria tradicional o barro, também ele tem reflectido preocupações ecológicas, vindo a assumir diferentes materiais.
Por sua vez, sobretudo a pintura e a escultura eruditas, mas também as representações mais populares, mostram um movimento profundo, principalmente do ponto de vista estético, mas não só. Tempos houve, antes da revolução racionalista, em que o presépio era tema dominante na arte. Actualmente não é muito fácil encontrar, na arte contemporânea, a representação do presépio com a frequência que antes havia.
Ultimamente vi, no Museu Nacional de Arte Antiga, e vai permanecer até meados de Março, uma exposição, não de presépios, mas de arte do Mediterrâneo. Anterior, embora muito próxima, do Renascimento, onde a figura da Mãe e do Menino, e da própria Sagrada Família são preponderantes.
O Menino está quase sempre ao colo da mãe ou na manjedoura. Uma excepção me surpreendeu, na pintura de Scolalo di Giovanno, onde o Menino, em vez de estar na manjedoura, se deita no chão, para visível e mesmo dramática estupefacção do Pai. Percebe-se que a razão de o Menino estar no chão tem a ver com uma escolha sua. Muitas leituras poderiam ser feitas a partir daqui. Deixo-as para o leitor.
Vi algures, na Internet, uma versão inédita do presépio. E pensei: «meu Deus!, que estranhos presépios poderíamos construir à imitação das famílias!»
Nele, havia três jaulas. Cada elemento da Família encerrado numa jaula, separado dos outros. O Menino, encerrado ao centro. Representação tristemente genial. Não sei se vos faz lembrar alguma coisa…
Que as tristezas do tempo nos agucem a consciência sem nos privarem da alegria do Natal, que de tudo necessitamos.
Tudo isto, consciência e alegria, lhe desejo, amigo(a) leitor(a), para o seu Advento! Como merece.
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