Risoleta C Pinto Pedro
“Plasticidade amorável”
Numa das muitas viagens que actualmente faço, vou compensando a minha deficiência em informação televisiva ouvindo rádio. Num dos programas que às vezes me acompanham, uma correspondente da imprensa estangeira em Portugal ressaltava, como característica positiva dos portugueses, a sua atenção ao outro e a capacidade de ajuda ao próximo. Isto, a propósito de um episódio a que assistira, em que alguém, tendo-se sentido mal num espaço público, imediatamente fora amparado pelas pessoas presentes, e a chegada do INEM deu-se, segundo ela, num tempo especialmente curto, tendo a pessoa sido prontamente atendida, com eficácia e humanidade. Tudo normal, para nós. Tanto, que quando as coisas assim não acontecem, ficamos profundamente chocados, como se fosse o fim do mundo. E com razão. A desumanidade conduz-nos ao fim do mundo. E o recomeço dele, em novos moldes tem de dar-se em perfeita e inquestionável fraternidade. Segundo a jornalista, em Paris ou Madrid a coisa não se teria resolvido tão ágil, fraterna e tranquilamente. Tenho dúvidas em relação a Madrid, porque tendo-me sentido mal numa ocasião em que lá estive, praticamente ressuscitei dentro de uma ambulância em plena Gran Via e fui bem tratada. Com a hombridade musculada dos espanhóis, muito diferente da nossa, mas eficiente.
Com as excepções que todos conhecemos, somos, realmente, diferentes. Jaime Cortesão, referindo-se a esta nossa característica de relacionamento com os outros, particularmente com os outros povos, fala em plasticidade amorável. A dar provas desde que a primeira caravela daqui saiu. É uma expressão muito feliz e fiel, que convém não esquecer de lembrar e praticar. Uma capacidade para ouvir e compreender, assim assimilando alguns valores dos outros, os que nos convêm, e assim deve ser, e do mesmo modo, sem violência, fazendo naturalmente passar os nossos. Caracerística muito antiga, e ao mesmo tempo profundamente moderna. Tanto, que só tornando-se universal poderá haver esperança para esta humanidade. Um misto de fraternidade franciscana e de amor cavaleiresco. Tecnologia emocional de ponta.
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